quarta-feira, 3 de abril de 2024

O Fantasma do Quociente Eleitoral

 




O quociente eleitoral (QE) é o número de votos que um partido precisa para eleger um vereador ou deputado. Ele assusta, traz surpresas, alegrias e decepções. Aparenta ser um cálculo incompreensível, mas somente quando conseguimos entendê-lo, é que seu propósito é revelado: “um sistema eleitoral democrático, justo e equitativo.” Agora, para o candidato que não vence a eleição, é tentar explicar o inexplicável.

        Nas eleições de 1996, houve um caso curioso em Itatiba envolvendo o quociente eleitoral. Na listagem dos vereadores eleitos, aparecia Waldenir Gilli (PMDB) ocupando a 17ª cadeira. O PPB local contestou o resultado, argumentando que a vaga era do seu candidato João Fusussi, pois na contagem interna realizada pelo partido, apontava que o PPB teria uma votação maior que o PMDB. Os líderes pepebistas alegavam que a diferença estava nos votos de legenda. O juiz eleitoral acatou o pedido e, após nova totalização, descobriu-se o erro cartorário, que prejudicou a distribuição das vagas para a Câmara Municipal.

 Naquela eleição, a coligação majoritária que elegeu Adilson Franco Penteado, era composta pelos partidos PPB, PMDB e PSDB. No entanto, as três legendas não se coligaram para a proporcional e disputaram o pleito para vereadores individualmente. O equívoco cometido pelo cartório, foi utilizar a votação dos partidos PPB, PMDB e PSDB, como uma coligação para calcular o quociente eleitoral. Com o erro descoberto e, com a nova totalização, Gilli perdeu a vaga para Ester Dalcin Sibinelli (PSD) e, o PPB, não conseguiu emplacar João Fusussi como vereador. Segundo a reportagem do jornal de Itatiba, o mesmo erro aconteceu em outras vinte cidades do estado de São Paulo e, também, em Morungaba, onde Fernando Stella (PFL) perdeu a vaga para Marquinhos Oliveira (PSD), o atual prefeito morungabense.

As eleições proporcionais de 2024 trarão mudanças na legislação e no cenário eleitoral. Entre as mudanças destacam-se: o aumento de duas cadeiras na Câmara Municipal; a diminuição de candidatos que irão disputar a eleição; e a alienação eleitoral que poderá chegar na casa dos 30.000 eleitores. Para a divisão das cadeiras na Câmara Municipal, também teremos mudanças. Será uma operação em três etapas: primeiro serão beneficiados os partidos que atingirem 100% do Quociente Eleitoral (QE); depois será a distribuição das sobras por médias, incluindo os partidos que alcançaram 80% do QE. No entanto, nem todos os candidatos poderão participar desta distribuição, devido às cláusulas de barreira. Por último, caso ainda todas vagas não estiverem preenchidas, existe a chamada "sobra das sobras", onde todas as legendas poderão participar da divisão.

Com as novas regras, existe a possibilidade de os grandes partidos perderem vagas na divisão das sobras para as pequenas legendas, então, nesse novo cenário, seus líderes precisam rever conceitos e quebrar paradigmas. Será preciso inovar, profissionalizar a campanha e dar apoio total a todos os seus candidatos. O time todo precisará estar focado e motivado para conquistar o maior número de votos possíveis. Para tanto, eles precisam ter à sua disposição material de qualidade e uma equipe completa de marketing digital e político para atendê-los de forma única.

E você, pré-candidato, estude o cálculo do quociente, ele é um fantasma imprevisível e matemático. Analise o potencial dos candidatos do seu partido, planeje a campanha e não cometa o erro de deixar tudo para os últimos 45 dias. 

Agora é hora de criar reputação, posicionar-se, definir seu público, organizar a campanha, cadastrar suas lideranças e captar recursos. Para ser sincero, você já está bem atrasado! A menos que ainda acredite no Gasparzinho, o fantasminha camarada.

 

Artigo publicado no Jornal de Itatiba em 06 de abril de 2024

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Quem Quer Se Vereador?


 

Quem Quer ser Vereador?

As eleições de 2024 em Itatiba oferecerão excelentes oportunidades para conquistar uma vaga na Câmara Municipal. São duas boas notícias: a primeira é o aumento de duas cadeiras no legislativo itatibense, que passará a ter dezenove vereadores a partir de 2025, e a segunda, é a redução no número de postulantes. Cada partido ou federação poderá inscrever até vinte candidatos, em comparação com os 26 permitidos por legenda no último pleito. Além disso, a possível, não reeleição de alguns dos atuais vereadores, podem abrir mais algumas oportunidades.

Para quem quer ser vereador, é crucial estudar a representatividade e as estratégias dos seus principais concorrentes: os atuais legisladores. Concorrentes que contam com a visibilidade do cargo, assessores remunerados, e com poder político. Todos foram eleitos com planejamento e com nichos eleitorais consolidados.

A comunicação deles merece uma atenção especial. Analise como eles se comunicam, se são discretos ou midiáticos, se defendem alguma pauta. Observe os que fazem discurso de oposição, e os que são porta-vozes da administração, e por fim, se são apenas “papagaios de pirata”, que adoram aparecer ao lado do prefeito. Em outubro, o papagaio poderá ficar sem o seu pirata e, este, por sua vez, com um novo louro em seus ombros.

Quinto Túlio Cicero – 64 a.C, no seu manual de “Como Ganhar uma Eleição”, destaca três elementos que cativam o eleitor a dar apoio a um político: um favor, a simpatia espontânea e uma esperança. E é sobre a esperança que você, pré-candidato, tem que trabalhar na sua comunicação. Faça uma retrospectiva de sua vida, estude uma pauta que você domine. Crie reputação! Posicione-se, mostrando para o eleitor que você é a esperança, a ferramenta para resolver as necessidades e dores da comunidade.

A atual legislação eleitoral, permite de forma restrita, que os pré-candidatos realizem sua pré-campanha. Só não podem pedir votos, postar abertamente que é candidato e abusar do poder político e econômico. Agora é o momento de você construir reputação e segmentar o seu eleitorado. Fortaleça os laços e conexões com a comunidade, estruture a sua base de mobilização e monte uma estrutura mínima com profissionais de comunicação, de marketing político e de mídias sociais.

Evite postagens impulsivas nas redes sociais sem definir o seu discurso, sem entender o cenário político da cidade e as principais necessidades da comunidade. Deixe a vaidade de lado, fale menos de você e mais do que interessa ao eleitor. Evite promessas vazias que não serão cumpridas.  

Para concluir, a janela eleitoral com início em 6 de março, se encerra em 6 de abril e, também, é o último dia para você se filiar. Acompanhe as trocas de partidos dos atuais vereadores, estude as composições de cada chapa e avalie as suas possibilidades. Quanto ao dinheiro do fundo eleitoral, trate-o como uma possível lenda urbana. Se vier, será ótimo.

Artigo publicado no Jornal de Itatiba - edição digital, Coluna Opiniões  06/01/2024

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Quem Quer Ser Prefeito de Itatiba?

 



"Vencer uma eleição de um governo bem avaliado
 não é para quem quer, é  para quem pode". 

Alberto Carlos Almeida,
 A Cabeça do Eleitor.
 

 Em Itatiba não tem segundo turno, portanto, é uma eleição estratégica e matemática. Profissionalismo e planejamento são imperativos para vencer, e não são opções. É preciso somar e multiplicar apoios, subtrair do principal concorrente e dividir a oposição. Destaco duas eleições com estas características: a reeleição de José Roberto Fumach (MDB) em 2004 e a eleição de 2020, que elegeu Thomás Capeletto de Oliveira (PSDB).

Em 2004, na pré-campanha de Fumach (MDB), ele tinha dois concorrentes: Marina Bredariol Almeida (PPS) e o ex-prefeito Adilson Franco Penteado (PTB). Numa versão não oficial dos acontecimentos políticos da época, há uma intrigante narrativa que sugere uma articulação entre o MDB local e o PSDB estadual, para impulsionar a candidatura do então vereador João Gualberto Fattori (PSDB). Com a confirmação da candidatura de Fattori, a oposição se dividiu com três fortes candidatos. Fumach alcançou a sua reeleição, vencendo Marina Bredariol por uma diferença de 1,77% dos votos válidos. Uma vitória da estratégia política.

Na eleição de 2020, Douglas Augusto P. Oliveira (DEM) buscava a sua reeleição, enfrentando Thomás Capeletto (PSDB) e o Dr. José Antonio Parisotto (PSD). Acreditava-se que essa divisão da oposição poderia beneficiar o então prefeito. No entanto, o resultado não foi o esperado, e Douglas acabou perdendo a eleição por uma margem de 1,1% dos votos válidos. Douglas subestimou a força da oposição, não somou apoios e subtraiu ao romper com algumas tradições locais. Thomás soube somar os apoios dessas rupturas.  

Para a eleição de 2024, a polarização entre Thomás e Douglas é uma tendência clara e esperada. O atual prefeito, caso não enfrente nenhuma crise que afete a sua administração, provavelmente se apresentará com altos índices de aprovação. Douglas vem com forte oposição e com críticas aos pontos fracos da atual administração, ao abandono de algumas de suas obras, e propor soluções para as agendas recorrentes em todos os pleitos eleitorais como saúde, educação, emprego, segurança e transporte público.

Existem boas possibilidades e oportunidades para uma terceira via em 2024, seja para posicionar-se visando às eleições de 2028, ou para entrar firme na disputa. O desafio é grande! Há muitos votos a serem conquistados com os eleitores que optam por alienar o seu voto, representados por aqueles que se abstém ou votam nulo e branco. Esse fenômeno da alienação demonstra uma crescente descrença ou desinteresse nas eleições municipais. Na última que elegeu Thomás, 27.520 eleitores, ou, 33,46% deles não votaram em nenhum dos candidatos. Se esses números se mantiverem, a alienação em 2024 poderá ultrapassar os 35%, correspondendo a mais de 30.000 votos. O suficiente para eleger um prefeito! 

Nesse contexto, o maior desafio será motivar os eleitores a comparecerem às urnas. Um exemplo dessa estratégia foi observado na última eleição presidencial, quando os partidos PT e PL investiram na mobilização digital. E tiveram êxito, tanto que no primeiro turno em Itatiba, a alienação ficou em 28%.  A mobilização de rua ainda é importante e necessária, por demonstrar força e possibilitar o contato pessoal do candidato com o eleitor. No entanto, a mobilização digital permite alcançar de forma rápida e eficaz diferentes públicos. Por meio das redes sociais, é possível segmentar a comunicação de forma mais ampla, com postagens personalizadas e com narrativas diferenciadas para seus diversos públicos. Temas importantes para um jovem de 21 anos, não interessam à sua avó, de 65 anos.

Algumas dicas para quem deseja enfrentar a polarização Thomás-Douglas e ser o candidato da terceira via: saia do ostracismo político e comece a sua pré-campanha já; posicione-se na internet e na imprensa local sobre temas relevantes e atuais do município; tenha estratégias para sensibilizar, motivar e mobilizar o eleitor. Você só não pode pedir voto!

 E não se esqueça: profissionalismo, planejamento e estratégias são imperativos para vencer. Não são opções.


Artigo publicado no Jornal de Itatiba em 17 de junho de 2023.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Política é e Deve ser Assunto de Mulher

 



Mulheres na Política Itatibense


Uma mulher na política muda a [própria] mulher.

 Muitas mulheres na política mudam a política”

Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile

 

Desde a eleição municipal de 1947, a primeira do período de redemocratização, os itatibenses elegeram 243 vereadores. Desse grupo, somente 14 do sexo feminino.  Em 73 anos, tivemos apenas 5,76% de mulheres na história da Câmara Municipal de Itatiba. A quebra da hegemonia masculina no Legislativo itatibense ocorreu nas eleições de 1982.

O feito tem a autoria da advogada Lia de Araújo Oliveira Marchi. Dra. Lia, quatro anos depois, foi também a primeira mulher a ser reeleita vereadora em Itatiba, em 1986. Predestinada a quebrar reinados masculinos, ela derrubou mais um tabu em 1991, quando foi eleita a primeira e única mulher a presidir a nossa edilidade. Em 1992, Dra. Lia encerrou um período de dez anos como nossa vereadora.

A partir desse feito, mais 13 vereadoras foram eleitas para a Câmara Municipal: Marina Bredariol Almeida (1997-2000); Ester Dalcin Sibinelli, dois mandatos (1997-2004); Irene Araujo de Camargo Pires Fumach, três mandatos (2001-2012); Roselvira Passini (2017-2020); Deborah Cássia de Oliveira (2017-2020); Elizabet Tsumura (2017-2020); Luciana Bernardo (2021-2024); Leila Bedani, dois mandatos (2016-2024). A eleição de 2016 foi a que mais deu vitória a mulheres. Quatro se elegeram, porém, Elizabeth e Roselvira licenciaram-se para assumir cargos administrativos na Prefeitura.

Duas vereadoras merecem destaque especial pela dedicação à política itatibense: as professoras Marina Bredariol Almeida e Irene Araújo de Camargo Pires Fumach.

Marina demonstrou sua determinação e coragem para servir Itatiba ao longo de 20 anos de carreira política. Desde sua primeira e única que foi eleita, em 1996, disputou nove pleitos. Por razões que só os astros e deuses da política local podem explicar, não conseguiu ser eleita prefeita de Itatiba, cargo que disputou em três ocasiões. Também disputou por duas vezes o cargo de vice-prefeita, sem sucesso. Porém, obteve expressivas votações locais em suas candidaturas à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados. Em 2002, conquistou 43,2% dos votos em Itatiba e, em 2006, 42,35%. Os porcentuais não foram suficientes para elegê-la. Neste século, nenhum candidato itatibense chegou perto desses números de Marina.

Irene disputou quatro eleições e foi eleita em três delas. Em 2012, sua última campanha, conquistou 921 votos, mas não se elegeu em função do quociente eleitoral. Houve vereadores empossados com menos votos. Irene foi a candidata mais votada na eleição de 2000, quando obteve 1.589 votos –recorde ainda não superado por nenhuma outra candidata. Ao longo de 12 anos, foi uma das primeiras-damas mais queridas e admiradas pela população itatibense e inovou em suas ações do Fundo Social de Solidariedade.

Em 1992, Itatiba registrou o lançamento da primeira candidatura de mulher à Prefeitura, a de Maria Eunice de Lourdes Milda Mancin de Camargo. Obteve 13,69% dos votos, que não foi suficiente para elegê-la. Foi a primeira-dama que quebrou paradigmas e ditou uma nova diretriz para a função. Criou o Fundo Social de Solidariedade e foi Diretoria de Saúde e Promoção Social.  Era conhecida por não ter medo de nada, tanto que em uma das enchentes que assolou Itatiba na década de 1980, entrou no meio das enxurradas para socorrer famílias. Eunice foi também candidata a vice-prefeita em 1996, mas não se elegeu.

Se as leis e regras eleitorais de 2022 forem mantidas no pleito de 2024, vejo boas notícias para as potenciais candidatas. Duas merecem atenção:

·         Redução do número de candidatos: na eleição municipal de 2020, cada partido podia lançar até 26 nomes. Agora, serão até 18 por legenda ou federação (100% das cadeiras +1), das quais seis vagas serão reservadas para as mulheres (30%).

·         Recursos e cotas: a Emenda Constitucional 117 prevê acesso das candidatas a, no mínimo, 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e do Fundo Partidário; a mesma cota valerá para o tempo de propaganda em rádio e TV.

Com a redução do número de candidatos e mais tempo de mídia e recursos financeiros para as mulheres, os caciques terão de esquecer a velha prática de preencher a cota feminina com as amigas e familiares, somente para cumprir os termos da lei. Precisarão contar com mulheres empoderadas, com potencial de voto e projetos capazes de atender às demandas da população. Os caciques têm de investir desde já nas possíveis candidaturas femininas.

A Câmara Municipal de Itatiba precisa de maior presença feminina. Mulheres são mais orientadas para as pessoas do que os homens, enxergam o mundo desde a perspectiva do grupo, do "nós". Elas têm empatia com as suas pautas. Além do preparo para enfrentar qualquer pauta política a ser apresentada durante a legislatura, compõem a parcela com real conhecimento sobre saúde, aborto, educação, assédio moral e sexual, maternidade, segurança alimentar, igualdade de gênero, empobrecimento menstrual, jornada dupla de trabalho, desigualdade salarial, sub-representação em cargos eletivos e na administração pública, entre outros tópicos.

As mulheres representam mais da metade da população brasileira e, em pleno século 21, não podem continuar sub-representadas na política. O patriarcalismo esgotou-se, o preconceito não se sustenta e a competência das mulheres em funções públicas está mais do que confirmada. Elas têm o poder de criar propostas claras, objetivas, eficientes e de práticas para a melhoria da vida dos itatibenses. Há necessidade inquestionável de termos mais mulheres atuantes no campo da política.

Esperamos que numa eleição, não tão distante, se quebre mais um tabu, e Itatiba eleja a sua primeira prefeita.


Artigo publicao no Jornal de Itatiba - 08/03/2023 

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Artigo "Política é e Deve ser Assunto de Mulher" publicado no Jornal de Itatiba 08/03/2023


 

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Não é só Carnaval

 


            A família itatibense que gosta do carnaval voltou a sorrir. A Praça da Bandeira novamente lotada, sob o olhar feliz de dona Helena Pupo, Homenageada que foi pelo bloco Demônios Acadêmicos da Benjamin e na arte de Cleverton Gomes. Cinco dias de uma imersão carnavalesca, que há tempos nossa cidade não presenciava. Foi maravilhoso!

Tivemos reis, rainhas, princesas, a centenária Banda Santa Cecília, os Demônios da Benjamin com seus 45 anos, sendo que por 43 deles abriu o nosso carnaval. O novo percurso do bloco Tradição, com a batuta da bateria nas mãos de Giba Jesus, herdeiro do querido mestre Birro. O bloco percorreu do Bar Ramalho na Pizza e Almeida, agora Ladeira do Samba, até o Clube 7 de Setembro, torrão natal da Unidos da Campos Salles e da família de Nhá Dita Maranhão. Uma festa que uniu a tradição, cultura e história.

Os Blocos se consolidaram nos grandes centros e, em Itatiba, não foi diferente.  Com a gigante Namoradeira, Sputnik e Desbocados vimos uma evolução emocionante no nosso carnaval de rua. Eles se tornaram as principais atrações das tardes do reinado de Momo. Outra grande alegria veio lá do Jardim das Nações, com o ressurgimento, como uma Fênix, da bateria da Escola de Samba Águia Dourada, de boas lembranças com os velhos companheiros de carnavais, Niltinho e Tonhão.

        As bandas Piracema, Por do Som e o grupo Pegada Nossa, compartilharam com entusiasmo a alegria dos itatibenses. O que é mais importante: tudo gente de quem! Todas formadas em sua maioria por músicos itatibenses, que conhecem a nossa cultura e gosto musical. Sucesso certo e garantido!

Outra boa notícia: os clubes estão se reinventando. Voltando, criando alternativas e mantendo as suas tradições.

Neste contexto, peço licença a Noel Rosa para plagiar um pequeno verso de "Feitio de Oração". Podemos dizer que o itatibense "Sambou e chorou de alegria. Sorriu de nostalgia".

Faltou apenas uma grande matinê para as crianças, que, com certeza, ocorrerá em 2024.

Não é só carnaval. Os festejos movimentam toda a economia da cidade. Costureiras, confecções e armarinhos, lojas de roupas e calçados, bares, restaurantes, sorveterias, cozinheiros e auxiliares, garçons, músicos, seguranças, açougues, mercados, adegas, enfim, todos os setores que fazem a nossa economia girar. E faz girar colaborativamente, onde um ajuda o outro. Aqui em Itatiba, é onde a maioria deles reinveste os seus ganhos e contratam profissionais. A roda gira...

Ganha até quem não gosta da folia!

A prefeitura acertou em apostar nos blocos e nas bandas locais. O carnaval é considerado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o natal do turismo brasileiro. Itatiba é um Município de Interesse Turístico, com potencial e uma boa estrutura para promover um grande carnaval.

Um Corredor da Alegria! Que poderia ser realizado nas quatro praças do centro: Fórum, Rosário, Bandeira e Cadeia, mais o Mercadão, a região do Pabreu Mall, a Ladeira do Samba e o 7 de Setembro.

 Parece loucura, mas...

Não é só carnaval. Com um evento bem planejado, Itatiba pode se posicionar como um destino preferido de famílias que buscam uma cidade segura, alegre e perto da capital para curtir a folia. Precisaria unir num grande projeto as secretarias de Cultura e Turismo e do Planejamento. Convocar o SEBRAE para capacitar e treinar o comércio, prestadores de serviços e ambulantes para o evento e, se possível, um gestor profissional para o turismo e seu trade.  Precisa evoluir gradualmente, acertando o que não deu certo, e num futuro próximo, teremos um carnaval diferenciado e único. As cidades de Capitólio, São Luiz do Paraitinga e Serra Negra, são as referências para se estudar.

Não é só carnaval. É turismo. Uma indústria limpa, aonde o dinheiro vem e fica.

Não é só carnaval, é desenvolvimento. É geração de emprego e renda.


Artigo Publicado no Jornal de Itatiba - edição virtual, em 25 de fevereiro de 2023

 

Fabio Eduardo Chrispim Marin

Publicitário, Consultor de Marketing e Presidente dos Demônios Ac. da Benjamin desde 1977, ou seja, desde sempre.

 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Um Causo da Velha Política


No Grande Império há uma prática comum de troca de favores entre o Executivo e o Legislativo para aprovação de projetos e apoio político recíproco. A prática é conhecida como a Velha Política ou o "toma lá dá cá".  A principal referência desse sistema é o Centrão, agrupamento de legendas presentes no Parlamento beneficiado com os orçamentos secretos e outras emendas parlamentares.

 Em um reino nem tão distante, houve uma época em que alguns senadores estavam bastante inquietos e dificultavam algumas iniciativas da primeira dinastia Tucana. Então, o soberano, inspirado na iniciativa eficaz do Império, criou também uma "moeda de troca": o Conselho de Assuntos Inexpressivos. Acalmou os rebeldes do Legislativo e governou por oito anos. Não conseguiu acalmar a sábia oposição e a opinião pública que, legitimamente, não deixaram os Tucanos fazerem o seu sucessor. Um sucessor que o Alto Tucanato também não queria.

Subiu ao trono o Jovem Rei I, que sentiu a necessidade de aumentar as benesses para o Centrão. Criou os Sete Vice-Reinos. Distribuiu quase todos os cargos entre os senadores da sua base e, assim, governou por quatro anos até ser deposto, legitimamente por plebiscito. Agradara os senadores do seu grupo, mas não conseguira convencer a totalidade dos seus súditos.

A dinastia Tucana retorna ao poder com o Rei Tommaso IX. O novo soberano, conhecido pela sua polidez e diplomacia, fez algumas alterações pontuais no relacionamento com os senadores. Com a medida, conseguiu a adesão de dois grandes partidos da oposição, ambos atraídos pela esperança de bons apanágios.

 O relacionamento dos últimos três reinados com o senado foi o tema da tese de Pós-Doc. "É assim porque foi sempre assim", de um renomado Professor Doutor Historiador. Depois de muito pesquisar nas atas e regimentos da concepção do Conselho de Assuntos Inexpressivos, ele notou que no decreto da sua criação, o artigo I enunciava como soft skills mínimo e obrigatório para o cargo de conselheiro da pasta era pertencer a uma "linhagem política". Descoberta que esclareceu definitivamente a legitimidade pelo qual a primeira Dinastia Tucana e o Rei Jovem I, só nomearem as esposas e irmãos dos confrades políticos.

O Rei Tommaso IX revogou a condição da "linhagem política". Instituiu que a condição sine quo non para ocupar o cargo de Conselheiro de Assuntos Inexpressivos era ser senador e membro da "Fraternidade de Apoio Real". Assim, o objetivo de agradar os senadores seria mantido, mas sem a hereditariedade familiar.

Quanto aos Sete Vice-Reinados, o enunciado do Artigo I da lei que regulamentou a sua criação, diz que os vice-reis não precisavam despachar nas suas regiões, poderiam ser estrangeiros e sem nenhum conhecimento do seu vice-reinado. Já o Artigo II deixa clara a preocupação do Rei com possíveis desvios de funções: nada de muitos afazeres a fazer no seu território. Os dois artigos foram mantidos Ipsis litteris por Tommaso IX.

Na sua tese, aprovada com Distinção e Louvor, o Professor Doutor Historiador faz um resumo de todas essas informações e, também, como encontrou a citação definitiva que esclareceu o seu ponto de vista sobre o poder do centrão no reino. Como ele era neto de um surdo e com o avô aprendeu a se utilizar da técnica da surdez seletiva, fazia plantões diuturnos na Casa de Leis, onde todos tinham a certeza que ele não escutava nada. Mas escutava tudo! Certa ocasião, enquanto lia os jornais na sala de café, presenciou um encontro de um grupo de senadores neófitos com o presidente do Senado. Eles propunham extinguir a Secretaria de Assuntos Inexpressivos e os Sete Vice-Reinados. Com estudos e planilhas, argumentavam que o reino economizaria mais de bilhão de Coroas Reais por ano, recursos que poderiam ser usados para a educação e a saúde.

Para esclarecer o objetivo da tese, o Doutor Professor Historiador, transcreveu minuciosamente o que ocorreu e ouviu na reunião:

"O decano presidente do Senado se enfureceu, cerrou os punhos e socou com raiva a mesa, derrubando as xícaras e os copos no chão". Assustados, os jovens senadores acuaram. Ele fez um sinal com as mãos pedindo um tempo para retomar o controle emocional. Fez uma longa pausa. Tirou seu Taurus 38 do coldre - é membro do clube de tiro ao Álvaro, colocou em cima da mesa, sem tirar os olhos dos jovens políticos. Alisou com o mata-piolho e o fura-bolo os seus espessos bigodes, parecia ler as planilhas, mas como um bom decano, analisava as consequências políticas do projeto. Mais calmo e com a sapiência dos seus dez mandatos, colocou um ponto final na conversa:

— Vejam bem. O sistema É assim porque foi sempre assim! Vocês são novos aqui, então, prestem bem atenção no que considero ser o mais importante: Deus nos livre ser oposição! Querem que nossos ancestrais revirem no túmulo? Caiam já fora daqui!

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, cargos, reis, decretos, acontecimentos ou fatos da vida real terá sido mera coincidência

Publicado no Jornal de Itatiba em 24/09/2022