quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Zona Azul: Antimarketing para o Comércio











A Zona Azul surgiu como a solução para os problemas de estacionamento na área central de Itatiba. Em tese, trouxe facilidade para estacionarmos em frente das lojas da nossa preferência e sem dificuldades para fazer a baliza. Mas o tempo mostrou rapidamente as consequências negativas da Zona Azul para o comércio no centro de Itatiba e no Mercadão.

Não está totalmente claro o benefício oferecido pela Zona Azul e qual a sua relação com a comunidade local. A rigor, cidadão que, para estacionar o seu carro, deposita moedas no parquímetro se torna um cliente do estacionamento rotativo. Ou seja, ele compra o direito de estacionar seu carro em uma suposta vaga e, como  bonificação,  não leva uma multa. Portanto, em minha opinião, há uma relação comercial entre a empresa concessionária  e o condutor do veículo.

No dia-a-dia, a dificuldade enfrentada pelos usuários da Zona Azul é a falta generalizada de moedas. Os parquímetros consomem a maioria delas, e a reposição não é feita na mesma proporção e rapidez. As agentes fiscalizadoras, que representam a concessionária, deveriam ter moedas para trocar para os clientes. Os comerciantes também podem e devem fazer a troca, como gentileza aos consumidores do comércio local.

O segundo problema está no fato de a Zona Azul ser uma ‘draga” para a economia local. Praticamente todo dinheiro arrecadado pela concessionária vai embora, não fica em Itatiba. A Estapar Estacionamentos, que instalou totens com um discurso de ter uma  tecnologia de primeiro mundo, paga os seus custos operacionais, mas todo o seu lucro é enviado para a sua matriz. Esse é um bom assunto para um economista detalhar em um artigo para o JI.

O  terceiro e o maior problema causado pela Zona Azul é o antimarketing para o comércio itatibense. As multas de R$ 127,00 e os cinco pontos na CNH - penalidades para quem se arrisca a não pagar o Zona Azul ou extrapola o tempo de estacionamento - têm causado medo e afugentando o consumidor. Quem precisa fazer compras e já levou alguma multa ou não tem moedas no bolso sempre analisa as opções e, inevitavelmente, traça uma rota de fuga do centro. O consumidor sempre busca a sua conveniência: escolhe o comércio com estacionamento fácil, regiões sem o estacionamento rotativo e, pior ainda, ruma para outras cidades.

Com a fuga dos consumidores, as lojas das ruas centrais perderam o efeito vitrine e a compra por impulso. Itatiba é uma cidade interiorana e ainda preserva como diferencial o relacionamento direto e cordial entre o cliente e o lojista e atendentes. Essa característica proporciona ao consumidor  um pouco de entretenimento, de lazer e até passatempo.

Com a Zona Azul, quando precisa vir ao centro para ir ao banco, fazer uma visita, resolver alguma questão ou comprar em uma loja de sua preferência, o consumidor faz o que tem que fazer apressadamente para não ser multado e vai logo embora. Não toma um cafezinho, um lanche, um sorvete, não dá “dois dedos de prosa” com os conhecidos, não faz um passeio e não vê as vitrines.

Existem propostas para flexibilizar a fiscalização e para conceder uma tolerância de até 15 minutos para quem usar o Zona Azul. Mas tampouco resolverá o problema. Talvez seja ainda pior. Ao sair para as compras, todo mundo terá a sensação de estar perdendo o ônibus. O consumidor continuará a seguir sua lista de tarefas e compras na correria. O comércio, porém, precisa de consumidores com mais tempo e menos estresse.

Hoje em dia não basta satisfazer os clientes. É preciso encantá-los. E para encantá-los, o comerciante tem de estar um passo a frente das expectativas e desejos de sua freguesia. Quando decide o local de sua compra, o consumidor cria uma expectativa em relação ao produto, ao atendimento, aos serviços, aos preços, às condições de pagamento e a todas as facilidades que pretende encontrar. Qualquer ruído nesse processo, a experiência se torna desagradável. O ruído que está tornando negativa a experiência do consumidor e que o afugenta da área central de Itatiba e do Mercadão é a multa da Zona Azul.


Atualmente, o estacionamento rotativo impõe medo ao consumidor: medo da multa, medo de perder pontos e medo ter a sua carteira de habilitação suspensa. Essa sensação gera o antimarketing para o comercio do centro.  E está fazendo com que o centro comercial de Itatiba e o Mercadão percam seus encantos e que, nesses locais, os consumidores tenham reduzido seu prazer de fazer as suas compras e passeios.

Artigo publicado na Coluna Opiniões. Jornal de Itatiba - Diário. 27/11/2016

domingo, 9 de outubro de 2016

Entenda o Quociente Eleitoral. Case Eleições Itatiba - 2016


Divulgado os resultados finais das eleições para vereadores, muitos eleitores devem estar perguntando por que candidatos com menor votação foram eleitos e outros com mais votos não foram.   Esta situação ocorre por causa do sistema eleitoral brasileiro. Os prefeitos, governadores e senadores são eleitos pelo sistema majoritário, no qual o mais votado é o vencedor. Já os vereadores, são eleitos pelo sistema proporcional, onde primeiramente são computados os votos de cada partido ou coligação e, em uma segunda etapa, os de cada candidato.
Portanto, no sistema proporcional, para conhecer os vereadores eleitos, deve-se, antes, saber quais foram os partidos e coligações vitoriosos e quais atingiram o quociente eleitoral depois, dentro de cada agremiação, observar quais são candidatos mais votados. Encontram-se, então, os eleitos. Esse, inclusive, é um dos motivos de se atribuir o mandato ao partido e não ao político.

Para entender o sistema proporcional temos que entender alguns conceitos importantes, como votos válidos, quociente eleitoral, quociente partidário, e cálculos pela média. Vamos por partes
1 – Quociente Eleitoral
É a votação mínima que deverá obter um  partido/coligação para concorrer à distribuição das cadeiras no Legislativo.  Para chegar a ele, divide-se o número de votos válidos (leitores aptos - abstenção - nulos - brancos) pela quantidade de cadeiras na Câmara Municipal (17).  O quociente é o primeiro limitador para os partidos políticos com baixo desempenho, pois a agremiação partidária que não obter uma quantidade de votos igual ou superior ao quociente eleitoral não poderá eleger candidatos para o Legislativo.
 Nesta eleição, os partidos e coligações: Rede, PTN – PSC, PEN – PRB- PHS, PSDC – PSL, PSOL, PT, PRTB- PT do B obtiveram votação inferior ao quociente Eleitoral, logo não participaram da distribuição de vagas.


2 – Votos válidos
2016 - Eleitores aptos a votar         77.171
Abstenção (19,68%)                        -15185
Nulos (7,16%)                                   -4437    
Brancos (5,57%)                                -3453
Votos Válidos             54096  
   
3- Cálculo do Quociente Eleitoral.
O quociente é conhecido dividindo os votos válidos pelo número de cadeiras na Câmara Municipal itatibense.

            Quociente Eleitoral – 54096 / 17 = 3182.
Portanto, a cada 3182 votos o PARTIDO/COLIGAÇÃO tem direito a uma vaga na Câmara.

4– Quociente Partidário
O Quociente Partidário define o número de vagas de cada Partido/Coligação. Para chegar aos nomes dos candidatos eleitos, é preciso dividir a votação obtida por cada partido/ coligação (votos nominais + votos na legenda) pelo quociente eleitoral. Neste caso, despreza-se a fração, qualquer que seja.
            Com  o Quociente Partidário a divisão de vagas ficou assim:

Coligação
Quociente Partidário
Vereadores
DEM – PP –PSB
11305 / 3182 = 3 VAGAS
Flavio Monte (DEM).  Roselvira Passini (DEM) e Hiroshi Bando (PP)

PPS – PMDB – PTC – PROS      
7870 / 3182 =  2 VAGAS
Washington Bortolossi (PPS) e Prof.ª Deborah Oliveira (PPS)

PSDB-PMN
7459 / /3182 = 2 VAGAS
Thomas Capelletto (PSDB) e Cornélio da Farmácia (PSDB)

SD – PTB                                                
5306 / 3182 = 1 VAGA
Romanin (SD)

PR – PPL    
4854 / 3182 = 1 VAGA
Ailton Fumachi (PR)

PDT – PRP – PC do B                            
4537 / 3182 = 1 VAGA
Edvaldo Húngaro (PDT)

PV – PSD -                     
PV – PSD  = 1 VAGA                    
Leila Bedani (PV)


5 – Distribuições das sobras pelo calculo da média
Preenchidas as onze vagas pelo quociente partidário as seis vagas restantes serão completadas por uma nova conta: o calculo da média de votos validos dos partidos / coligação.  O artigo 109 do Código Eleitoral Brasileiro determina que vagas não preenchidas pelos quocientes partidários devem ser ocupadas considerando o desempenho médio dos partidos. O calculo é aplicado a todos partidos / coligações que obtiveram o quociente partidário. Serão feitos cálculos das médias até que sejam preenchidas todas as vagas que ainda estavam abertas. A formula é a seguinte:

·         Divide-se o número de votos obtidos pelo partido / coligação pelo número de vagas obtidas no quociente partidário, somando-se a este mais uma vaga . Quociente partidário / vagas da coligação +1  A coligação que possuir o maior quociente médio é contemplada com a primeira vaga remanescente.
A tabela abaixo explica melhor:






Pelo calculo da média ganharam o direito a mais uma vaga:
 
·         DEM – PP –PSB - José Roberto Feitosa (DEM)
·         PPS – PMDB – PTC – PROS - Serginho (PPS)
·         PSDB –PMN - Sidney Ferreira (PSDB)
·         SD – PTB - Willian Soares (SD)
·         PR – PPL – Fernando Soares (PR)   
·         PDT – PRP – PC do B - Bete Enfermeira (PDT)
Quociente eleitoral, voto em legenda, quociente partidário e calculo pela média parecem ser ilógicos e até injustos, mas esta é a atual legislação que define as regras das eleições legislativas e cabe a todos que participam ativamente das campanhas políticas dominar o assunto e jogar com as regras do jogo.   

Artigo publicado no  Jornal de Itatiba - Diário, Opiniões.  Pag B4. Domingo, 16/10/2016                    


quarta-feira, 30 de março de 2016

Plataforma de Carnaval

A letra do samba "Plataforma", de João Bosco e Aldir Blanc, expressa a pura essência do Bloco Carnavalesco Demônios Acadêmicos da Benjamin. Desde seu primeiro desfile, em 1978, os Demônios adotaram como exigência estatutária a mesma regra de espontaneidade, alegria e congraçamento no Carnaval explicitada no samba dos mestres Blanc e Bosco, curiosamente composto no mesmo ano de fundação do bloco, 1977. 

"Plataforma" diz o seguinte:
"Não põe corda no meu bloco/ Nem vem com teu carro-chefe
Não dá ordem ao pessoal /Não traz lema nem divisa
Que a gente não precisa / Que organizem nosso carnaval
Não sou candidato a nada / Meu negócio é madrugada
Mas meu coração não se conforma / O meu peito é do contra
E por isso mete bronca / Neste samba plataforma
Por um bloco / Que derrube esse coreto
Por passistas à vontade/ Que não dancem o minueto
Por um bloco / Sem bandeira ou fingimento
Que balance e abagunce / O desfile e o julgamento
Por um bloco que aumente/ O movimento
Que sacuda e arrebente / O cordão de isolamento"

Nos dias de desfile dos Demônios, efetivamente, tudo o que não se quer é corda, carro-chefe alheio, lema e divisa de outrem, nem gente de fora investida da tarefa de organizar a bagunça. Presidente do bloco nesses últimos 39 anos dos Demônios, que “não dá ordem ao pessoal” e todo  membro da diretoria, "não sendo candidato a nada”, atravessou comigo essas quase quatro décadas. Recentemente, fomos todos reeleitos, democráticamente e por aclamação, para mais um longo mandado. Estaremos à frente do bloco até janeiro de 2026.

Em 1977, quando o bloco foi fundado por amigos que se reuniam no Bar Capitólio, “o meu negócio , e o  da maioria dos membros dos Demônios, era a madrugada”. Tínhamos na cidade belos carnavais de rua e de salão. O tempo passou.... "mas meu coração não se conforma” e se  pergunta: o que aconteceu? Para onde foi aquele carnaval “que derrube este coreto e com passistas à vontade, sem dançar o minueto”? Em Itatiba, o Carnaval terminava somente na manhã de Quarta-Feira de Cinzas em plena Praça da Bandeira.

Fomos reeleitos para conduzir os Demônios sem propostas nem discursos. Mas com uma convincente filosofia mantida desde seus primeiros desfiles: explorar a criatividade, o bom humor, a ousadia e a brincadeira sadia. Algo muito bem traduzido na passagem "por um bloco sem bandeira ou fingimento, que balance e abagunce o desfile e o julgamento”. Nós fomos julgados a cada ano e aprovados pelos cidadãos carnavalescos de Itatiba.
Não tivemos tempo para realizar todos os nossos projetos nesses 39 anos. Quem sabe no próximo decênio seremos mais exitosos.

Para 2017, teremos um novo, porém não desconhecido desafio: o novo prefeito e a nova Câmara Municipal de Itatiba, a serem eleitos em outubro deste ano. Mesmo sendo escolhido um alcaide que “o meu peito é do contra”( ou a favor), vamos continuar com a nossa proposta de trazer um o sorriso no rosto de cada itatibense na sexta-feira de Carnaval e, com alegria, lembrá-lo das lambaças de seus políticos. “E por isso mete bronca.”

Nós dos Demônios da Benjamin, esperamos mais 10 anos de bons carnavais na Praça da Bandeira. Recentemente, com muita alegria, vimos surgir mais dois belos blocos carnavalescos na nossa praça, o Sputnik e a Namoradeira. Desejamos vida-longa e estes irmãos e sugerimos a eles  também trazer como lema o samba "Plataforma": “Por um bloco que aumente o movimento, que sacuda e arrebente. O cordão de isolamento”

Para finalizar, retomo o “balance e abagunce” e aproveito o modismo da nossa Câmara - aquela que “não traz lema nem divisa”, mas que é capaz de aprovar o Dia Municipal do Fusca em plena tragédia das inundações - para apresentar uma sugestão: instituir o Dia Municipal do Bloco Carnavalesco Demônios Acadêmicos da Benjamin nas sextas-feiras de Carnaval. 

Fabio Eduardo Chrispim Marin
Presidente, eleito por carimbo e democraticamente desde 1977
Publicado no Jornal de Itatiba - Diário em 30/03/2016