domingo, 4 de novembro de 2018

ELA NÃO DEU A DICA...



Uma crônica para itatibenses que fizeram o footing na Praça da Bandeira e "namoraram" na Biquinha


Fabio Chrispim Marin

Eucivaldes. Sujeito elegante e bonitão, autodenominava-se o rei do footing na Praça da Bandeira. Fanfarreava que sempre "descia" com alguma garota e que não falhava em nenhum final de semana! Voltava dos seus encontros sempre cheio de prosa, sem nem um pouco de modéstia sobre a formosura das suas moças. Apesar da boa pinta e do dom de ser falante, ele era um rapaz muito... mas muito ingênuo. Poucos acreditavam em suas histórias.

Sua inocência era explicitada nos seus relatos, temas frequentes do anedotário de seu grupo de amigos. Um dos causos mais relembrados foi a confissão de Eucivaldes sobre ter falhado na "hora H" com uma moça que, apesar de "trintona", se dizia donzela. Segundo ele, a falha não foi pela condição virginal, mas sim pela ausência de pelos pubianos. Todos ainda relembram a frase de indignação de Eucivaldes sobre aquele acontecido:

- Donde já se viu uma mulher já feita barbear a sua periquita na navalha?

A partir de um quarto para as dez das noites de domingo, após o footing, os seus amigos tinham encontro marcado no Bar Capitólio, reduto boêmio da cidade. O grupo era assíduo frequentador da casa. Tinha uma mesa cativa, sempre com a presença fiel de "figuras" tradicionais da cidade. Nesses encontros dominicais, os assuntos principais eram as proezas do final de semana. Chico Butuca, amigo inseparável de Eucivaldes, com as suas historias minuciosas, era o narrador mais esperado daquelas noites.

- Vamos aproveitar que o Eucivaldes ainda não chegou, pois tenho uma história fantástica dele!

Deu um sinal para Hermano, o eterno barman, trazer uma "cachaça São Luiz". Ao seu lado estava "Lorota", que pediu para pagar uma para ele também, com um argumento triste e ao mesmo tempo convincente:

- Sabe Chico, a pior coisa que pode acontecer a um homem é estar com vontade de tomar uma, não ter dinheiro, e o dono do bar não querer vender fiado!

Servidas as cachaças, Chico sorveu um gole, estalou os lábios, acendeu o seu Continental sem filtro, fez uma pausa e caiu numa grande gargalhada. Ninguém entendeu nada, mas a encenação despertou a curiosidade de todos.

- Estávamos sábado fazendo o footing na praça. A "Ritz", nos seus autofalantes, tocava grande sucesso de "Papo de Corvo". 
Lorota de pronto cantarolou, acompanhado por todos da mesa: "Domingo é dia de dar volta no jardim, vai ser legal, vai ser legal". 

Chico interrompeu a contaria e continuou:

- Quando vimos duas princesas. Idênticas! Olhei para o Eucivaldes e o vi de boca aberta. Nem discutimos quem ia ficar com quem. Eram iguaizinhas! Estávamos perto do coreto. Elas passaram uma, duas vezes, trocamos olhares e, na terceira vez, eu fiz um sinal com o dedo nos lábios de que queríamos falar com elas. Na volta seguinte, elas pararam. Marina e Mariana, duas gêmeas. Angelicais!  

  - Nos apresentamos e conversamos um pouco. Logo elas nos convidaram para ir ver retrato de casamento no Foto Parodi, pois tinham de contar para a mãe, em detalhes, como eram os vestidos das noivas e madrinhas. Eucivaldes não ficou muito animado. Na verdade, estava meio desconcertado. Em frente ao Bar Jardim, ele deu uma desculpa de ir ao banheiro, e ficamos de esperá-las na volta. Foi o tempo de tomarmos três chopps do Prezotto, e elas apareceram, refesteleiras, comentando cada detalhe dos vestidos das noivas.

Descemos até a esquina da praça com o Cine Marajoara, embaixo do caramanchão. Contaram elas que os pais eram muito religiosos e enérgicos e não queriam saber que elas namorassem. Seus dois irmãos, gêmeos também, chegariam por volta das nove e meia para buscá-las. Olhei no relógio e ainda tínhamos pouco mais de uma hora. A conversa foi esquentando, os primeiros beijos saíram ali mesmo na praça e foram ficando mais quentes. Elas, definitivamente, não eram tão angelicais assim.

Eu já não aguentava mais. Chamei o Eucivaldes de lado e falei:
- Vamos para a "Biquinha"?
 No que ele concordou na hora. Fizemos a proposta, e as gêmeas, animadíssimas, toparam.

Na mesa do Capitólio, ninguém dava um único piu. Todos atentos na narrativa, e alguns, possivelmente, excitados com a história. Chico Butuca terminou o cigarro, tomou um último gole e continuou.

- Descemos até a Biquinha. Combinei com o Eucivaldes que o primeiro a "terminar" daria um assobio. Ficamos ali uns três quartos de hora, mais ou menos. Como não ouvi nada, esperei mais uns cinco minutos e assobiei. Ele gritou que poderíamos ir. Elas se despediram na esquina da Comendador e preferiram seguir pelo Jardim da Cadeia. Não deveríamos acompanhá-las, tinham receio de encontrar os seus irmãos.

Eucivaldes e eu subimos a ladeira e, quando dobramos a esquina do Grêmio, ele me convidou para tomar uma gelada no Bar Belém. Disse que tinha um assunto para tratar com o Olívio e, também, que estava com muita sede. Tomamos várias, com rabo de galo para quebrar o gelo.

Chico deu uma pausa, tomou mais um gole e continuou a narrativa:

- Para fazê-lo se abrir comigo, inventei alguns detalhes picantes que tinha acontecido comigo na Biquinha. Mas ele sempre mudava de assunto. Várias rodadas de bebidas, e nada de Eucivaldes abrir o bico. Calado e amuado.  Pagamos a conta e, já meio altos das bebidas, começamos a nossa volta para casa. Bom, dois bêbados juntos é sinal de vontade de tomar uma saideira. Foram apenas 50 metros até o bar do Português. Depois da terceira rodada, consegui tirar a confissão:  

- Como é "fez ou não fez?", falei meio bravo e sem paciência.  Eucivaldes virou numa talagada só o rabo de galo, deu uma arrepiada da cabeça aos pés. Respirou fundo, e falou com a sua inocência:

- Não aconteceu nada Chico... Eu fiquei ali com ela, estava com muita vontade, até trocamos uns beijos... Mas... Ela não tomou nenhuma iniciativa. Você me conhece... Sou respeitador! Eu esperava uma dica... E ela não deu a dica! Então, quando você assobiou, viemos embora.


*Os locais e os bares são reais. Esta é uma obra de ficção, apesar de qualquer semelhança nomes, pessoas, fatos, acontecimentos ou fatos da vida real terá sido mera coincidência.







quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Nem o Google explica a Nova Era




Outubro de alguns anos atrás . Eleições numa pequena e típica cidade do interior paulista que, como quase todas, tem suas peculiaridades e seu dicionário próprio. Os eleitores, cansados dos antigos mandatários, queriam mudanças políticas e administrativas.

Elegeram um novo prefeito, apadrinhado de um antigo e prestigiado ex-prefeito. Euforia total. Agora a cidade iria entrar nos trilhos! Nas redes sociais, ferviam elogios ao novo e jovem alcaide. Sem coronéis, excetuando o padrinho. Era o início de uma Nova Era “para reconstruirmos nossa cidade”, como a administração mencionou no seu primeiro carnê de IPTU.

Após o descanso merecido pós-eleitoral, o jovem prefeito iniciou a transição e a composição do futuro secretariado. Tudo feito com muita democracia, participação popular, transparência e critérios. Os nomes de vários secretários foram definidos, previamente, pela alta cúpula estadual do partido. Soldados fiéis, de pronto aceitaram e, após consultarem o Google Maps, encontraram a nova terra prometida.

Os novos secretários foram apresentados na cerimônia do beija-mão. Evento concorridíssimo. O responsável pelo cerimonial, um dos funcionários mais antigos da municipalidade, fazia três perguntas logo na entrada: o nome, gente de quem e o cargo. Anotava num pequeno cartão para ser anunciado na apresentação. Após cada fala, sempre ovacionada com vivas e aplausos, todos prometeram fidelidade ao novo prefeito e ao seu projeto de uma Nova Era de poder.

 Aberta a palavra ao assessor responsável pela transição, nativo da terra, este fez algumas recomendações para os secretários de três áreas: trânsito, obras públicas e segurança:

 - Senhores, precisamos de atitudes que demonstrem ao povo que nossa cidade vai mudar.  Uma Nova Era se inicia neste momento! Para tanto, é preciso algumas ações rápidas e precisas! Essas ações irão mostrar o dinamismo de nosso prefeito e de nossa administração.  Vou dar três exemplos do que podemos fazer: o trânsito na cidade parece piada de português. Principalmente nas ligações do Cubatão com o Curintinha e do IAPI ao Coroado e o cruzamento da Vila da Prata. Mas não se esqueçam do Pito Aceso e do Sapo!  Acertem o trânsito nesses pontos que vamos começar com uma imagem positiva perante a opinião pública.

O preposto a novo diretor do trânsito de pronto retrucou:

- Vou estudar com carinho, mas o sapo é com o Meio Ambiente!

O assessor nativo continuou:

- Para obras, Bentinho, nosso assessor responsável pela rádio peão, teria “ouvido falar qualquer coisa” no Jardim da Cadeia que, desde que a época em que Pinhá pediu, ainda não limparam o Rego do Xofe. Quando chove, a vizinhança da Dita Maranhão fica em perereco. Com esta obra bem feita, vamos mostrar a eficiência do nosso serviço público. E, para finalizar, a segurança: tem muito ligeira na Rodoviária. Tirando os ligeiras da cidade, vamos mostrar que estamos empenhados e preocupados com a segurança da cidade.

O Google novamente foi acionado: Cubatão, IAPI, Coroado, Vila da Prata, Jardim da Cadeia, ligeiras, rego de quem?  "Do que, diabos, ele está falando?, indagou o secretário de planejamento ao colega ao lado. "Deve ter endoidado ou tomado umas."

Terminada a reunião, o cerimonial anunciou o churrasco de confraternização e entregou a todos os  convites. Por economia, deveriam trazer as suas bebidas.

- A vasca estará repleta de gelo, avisou o chefe do cerimonial. No local vão encontrar uma ampla área de lazer com boléu para as crianças brincarem, um belo calipá para caminhadas  e um rapadão. Portanto, todos devem trazer no sapicuá a bicanca para uma pelada. No calipá, já foi passado um bom detefom para matar os carrapatás e a pioiada. O convescote será realizado num aprazível sitio de fácil acesso no Bairro dos Tontos, perto da Ponte Nova.

Dos secretários "estrangeiros", nenhum compareceu. Não acharam o local no Google Maps e ficaram com vergonha de perguntar aonde era o bairro. Outros ficaram mais receosos ainda com  a vasca, o sapicuá,  a bicanca e o carrapatá. O boléu, então, foi decisivo:

- Quem em sã consciência deixaria uma criança brincar em um boléu!, exclamou veementemente um dos secretários

 Não iriam correr riscos e passar vergonha, alegaram compromissos “anteriormente” assumidos por suas esposas. Tomaram posse, mas continuaram sem entender nada da cidade. O salário, porém, o compensava.

* Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança nomes, pessoas, fatos, acontecimentos ou fatos da vida real terá sido mera coincidência.

**Em caso de dúvidas, acesse o Glossário no próximo post 

Artigo publicado no Jornal de Itatiba, Coluna Opiniões em 14/10/2018


Glossário do artigo Nem o Google Explica a Nova Era




Glossário por ordem de apresentação no texto

Beija Mão: Tradição da monarquia portuguesa de reverência a personalidades eminentes.

Gente de quem: Pergunta frequente que a comerciante Maria Abraão fazia aos seus fregueses. Geralmente a pergunta era direcionada aos filhos de seus fregueses que, com a mercadoria na mão, pediam para marcar na caderneta mensal (fiado).

Cubatão: região da Rua Prudente de Moraes

Curintinha. Faz parte da vila Cristo Redentor

I. A.P. I: Antiga vila operária no bairro das Brotas.

Coroado e Vila da Prata: respectivamente Núcleo Residencial Afonso Zupardo  e Núcleo Residencial Carlos Borella. Estes dois bairros receberam estes apelidos devido à novela "Irmãos Coragem" veiculada na Rede Globo, no inicio da década de 1970.

Pito Aceso: região da Av. 29 de abril

Sapo: Bairro localizado entre as avenidas Independência e Lacerda Franco e Rua Aristides Lobo

Radio Peão: Nome informal dado a uma rede de rumores dentro da política. Responsável pelas propagações de fofocas ou notícias falsas. Hoje o fake news.

Jardim da Cadeia. Praça José Bonifácio

Pinhá. Apelido do ex-vereador Benedito Campos Pupo. Homem humilde  e operário da Industria Têxtil Pabreu, Dito Pinhá  com a sua simplicidade conquistava a todos. Foi eleito vereador  em Itatiba em três mandatos ( 1956-1960, 1963 – 1968 e 1969 -1972). Nestes períodos os vereadores não eram remunerados.

Rego do Xofe. O Córrego do Cioffi percorre praticamente toda a Rua Campos Sales. Nasce nas proximidades da rua professor Brito e deságua no Ribeirão Jacaré, próximo a Universidade São Francisco. Hoje, segundo a ONG Jappa, um dos córregos mais poluídos de Itatiba.

Dita Maranhão  Benedita de Oliveira. Cozinheira, líder da comunidade, religiosa e carnavalesca. Residia na Campos Sales com Piza a Almeida.  Organizava festas religiosas como a de São Benedito no largo do Rosário e as de São Pedro, São João e Santo Antonio onde hoje é o Clube Sete de Setembro.  

Perereco: quando dá tudo errado, nada funciona.

Ligeira: andarilhos, moradores de rua.

Vasca: Tanque de lavar roupa

Boléu: balanço para crianças, geralmente feito com uma placa de madeira ou pneu, amarrado com cordas em uma arvore.

Calipá: Plantação de Eucaliptos

Rapadão: Campinho de futebol, geralmente sem grama.

Sapícua: mochila, bolsa.

Bicanca: chuteira

Carrapatá: local cheio de carrapatos

Pioiada: Local cheio de piolhos

Bairro dos Tontos. Local onde hoje está instalado o  Auto Posto Três Irmãos, na Rodovia D. Pedro I.



sábado, 29 de setembro de 2018

Seis itatibenses foram eleitos deputados e senadores desde o final do Império


Seis itatibenses foram eleitos deputados e senadores desde o final do Império

Desde a época do Império, tivemos seis itatibenses com mandato eletivo no parlamento, como deputados federais, estaduais e senadores. Alguns deles natos. Outros adotaram Itatiba como sua terra e aqui criaram laços afetivos e profissionais. O primeiro parlamentar eleito foi o médico Gabriel de Toledo Piza e Almeida, um republicano convicto que  participou da Convenção de Itu.

Piza e Almeida era médico formado nos Estados Unidos, proprietário ruralempresário e  embaixador do Brasil em Berlim e Paris. Elegeu-se deputado provincial em São Paulo por três mandatos, entre 1882 e 1887, no reinado de Dom Pedro II.

Depois da proclamação da Republica, em 15 de novembro de 1889, o Brasil viveu cinco períodos republicanos, dos quais em quatro Itatiba teve representantes. A exceção foi no Estado Novo, quando o Congresso foi fechado.

  Na Primeira Republica (1889-1830), Antonio de Lacerda Franco foi senador estadual. Naquela época, o parlamento do Estado também era bicameral. Enéas Cesar Ferreira foi deputado estadual. Ambos eram do PRP, o Partido Republicano Paulista . Até 1926, todos os deputados itatibenses pertenceram ao PRP e suas dissidências, Conservador ou Liberal. Lacerda Franco e Ferreira perderam os seus mandatos com a Revolução de 1930, que trouxe Getúlio Vargas ao poder.

 Na Segunda República (1930-1937), o engenheiro itatibense Ranulfo da Mata Pinheiro de Lima foi eleito deputado federal Constituinte em 1932, como representante dos profissionais liberais. Pinheiro de Lima era um deputado classista, uma categoria parlamentar que assegurava a representação dos trabalhadores sindicalizados no parlamento. Em outubro de 1934, foi eleita uma Assembleia Constituinte Estadual com 60 deputados.

A Terceira Republica (1937-1945) teve inicio em 10 de novembro de 1937. Foi quando Getulio Vargas deu um golpe para instituir o Estado Novo, determinou o fechamento do Congresso Nacional e promulgou a Constituição de 1937.  A Carta Magna lhe conferiu o controle total do Poder Executivo e também lhe permitiu nomear interventores para os Estados, aos quais deu ampla autonomia para a tomada de decisões.

Com a renúncia de Vargas, em outubro de 1945, iniciou-se a Quarta República brasileira (1945-1964) e o processo de redemocratização do país. Houve eleições em dezembro para presidente, governadores e para a Constituinte. Mais de uma dezena de partidos novos e velhos passaram a funcionar, formando seus diretórios nas capitais e no interior. Entre estes partidos destacavam-se a UDN (União Democrática Nacional), o PSD (Partido Social Democrático), o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PTN (Partido Trabalhista Nacional) e ao PCB (Partido Comunista do Brasil).

Em 1950, surge na política o industrial itatibense Paulo Abreu, eleito deputado federal. Quatro anos depois, Abreu torna-se suplente de senador na chapa de Auro de Moura Andrade. Elege-se como deputado federal por mais dois mandatos, em 1966 e 1970. Na década de 1950, mais dois itatibenses se candidatam: em 1954, Luiz Emanuel Bianchi lançou-se para a Câmara dos Deputados pelo PST (Partido Social Trabalhista) e, em 1958, Roberto Arantes Lanhoso disputou uma vaga de deputado estadual. Nenhum dos dois foi eleito.


A Quinta Republica (1964-1985) surgiu com o golpe militar deflagrado em 31 de março de 1964 para depor o então presidente João Goulart. Nesse período, houve profundas modificações na organização política do país. Pelo Ato Institucional nº 2, de 1965, foram destituídos todos os partidos politicos existentes e, entre 1966 e 1979, o Brasil teve apenas dois partidos legais, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), de apoio aos governos militares, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), uma frente de oposição. Outros, como o Partido Comunista Brasileiro (PCB), continuaram a existir, mas na clandestinidade.

No período final do regime militar, o AI-2 foi abolido e formaram-se seis novos partidos. O Partido Democrático Social (PDS), sucessor da Arena e apoiador do governo militar. Na oposição, o PMDB sucedeu o MDB. Outras legendas criadas ou recriadas foram o Partido Popular (PP), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido democrático Trabalhista (PDT) e o Partido dos Trabalhadores (PT).  Paulo Abreu, neste período, filiou-se à Arena e conquistou mais dois mandatos como deputado federal, em 1966 e em1970.

Entre a década de 1970 até o final do Século XX, Itatiba teve vários candidatos a deputado estadual. Em 1970, Aloísio Boava (Arena) e, em 1978, José Mauricio de Camargo (MDB) disputaram uma vaga para a Assembleia Legislativa. Na década de 1990, seis itatibenses concorreram para essa Casa: Rubens Pântano Filho (PT), Manoel Roberto Massaretti (PDS), Tutomo Sassaka (PRP), Marina Bredariol Almeida (PPS), doutor Simões (PMDB) e Beto da Loja (PTB).

Somente no inicio do século XXI, Itatiba voltou a ter um representante na Assembleia Legislativa, com Adilson Rossi eleito em 2002. Rossi reelegeu-se por mais dois mandatos, em 2010 e 2014. Até hoje, mais 10 itatibenses disputaram eleições para o  Congresso Nacional e a Assembleia Legislativa, alguns deles mais de uma vez.  Tivemos também a candidatura do professor Antonio Carbonari Neto a suplente de senador na chapa de Romeu Tuma (PTB), em 2010. Mas neste longo período pós 1964, somente Paulo Abreu, por duas vezes, e Adilson Rossi, por três vezes, se elegeram deputados, ambos com uma grande base eleitoral.

Fabio Chrispim Marin
Consultor de Marketing Político, membro da Academia Itatibense de Letras e da Associação Pró Memória de Itatiba.
Artigo publicado no Jornal de Itatiba Diário em 07/10/2018. Coluna Opiniões

sábado, 15 de setembro de 2018

A história da Faculdade de Engenharia Industrial de Itatiba




Gostaria de acrescentar informações históricas sobre a recente notícia veiculada no Jornal de Itatiba na devolução do prédio da Universidade São Francisco à municipalidade.
O projeto de criação e instalação da Faculdade de Engenharia Industrial de Itatiba foi realizado durante a última gestão do prefeito Erasmo Chrispim, entre 1966 e 1969. Contou com total apoio técnico e político do então vereador Roberto Arantes Lanhoso que, quando assumiu a Prefeitura (1969-1973), fez um trabalho incansável pelo reconhecimento da faculdade pelo Ministério da Educação.
         O projeto de lei de criação da Faculdade de Engenharia de Itatiba foi aprovado pela Câmara Municipal de Itatiba em duas sessões extraordinárias, ambas realizadas em 9 de junho de 1967. A lei previa "firmar convênio com o I.E.S.R.B. (Instituto do Ensino Superior da Região Bragantina), com a finalidade precípua de ser instalada uma faculdade de Engenharia, com as modalidades de mecânica, têxtil, operacional e outras, nesta cidade, nos moldes educacionais mais avançados". A lei ainda previa a abertura de um crédito especial no valor de NCr$ 1.000.000,00 (um bilhão de cruzeiros velhos) para as despesas com a instalação da faculdade.
Em 15 de junho de 1967, o prefeito Erasmo Chrispim promulgou a Lei 845, oficializando a criação da F.E.I. Já no dia 22 de junho, a Prefeitura declarou de utilidade pública para fins de desapropriação, por meio do decreto 176/67, o prédio e os terrenos nos quais seria instalada a Faculdade. No mesmo terreno, pertencente à família Ulhano, funcionara por longo período um curtume.
Essa atitude, porém, em vez de criar expectativas positivas e alegria, teve efeito contrário. Foi alvo de pronunciamento do proprietário do imóvel no jornal "A Tribuna", em 25 de junho, e houve repercussão na Câmara de Vereadores, que tentou revogar o decreto, conforme publicação no mesmo jornal em 19 de julho de 1967.  Cinco vereadores opositores ao projeto tentavam a todo custo dificultar a instalação da faculdade nas antigas dependências do curtume
         Em contrapartida, a população jovem e estudantil da cidade se mobilizou e partiu para a luta. Com manifestações públicas e pressão sobre os vereadores, os estudantes conseguiram reverter a situação e posicionaram-se ao lado do prefeito. Em 23 de julho de 1967, foi publicado na imprensa local um “Manifesto ao Povo”, liderado pela Associação Estudantil Itatibense.
         Apesar de todo burburinho e das tentativas de orientar a opinião pública contra a instalação da FEI no local destinado, prevaleceram as determinações do prefeito Erasmo Chrispim. Depois de algum tempo de sua instalação, a Faculdade de Engenharia Industrial de Itatiba passou a ser comandada por um novo grupo empresarial, até ser absorvida pelas Faculdades Franciscanas. Funcionou no mesmo prédio e passou por várias transformações, oferecendo também cursos de outras áreas. Como Campus de Itatiba da Universidade São Francisco, no mesmo local cedido em comodato pela Prefeitura de Itatiba, funcionou até as enchentes de 2016, quando o prédio foi duramente atingido.

Logo depois de Erasmo Chrispim deixar a Prefeitura, em 1969, seus adversários políticos iniciaram um movimento para desvincular seu nome da Faculdade de Engenharia Industrial de Itatiba. Com esse movimento, pretendiam tirar sua “paternidade” da instalação da Faculdade. Na inauguração da instituição, uma placa comemorativa foi instalada na entrada do estabelecimento, com o nome de Erasmo Chrispim. Durante uma noite, a placa foi removida e roubada, ficando desaparecida por algum tempo. Passados alguns meses a mesma placa foi deixada defronte o Paço Municipal, envolta em papel higiênico. Em ato nobre, a placa foi recolocada no seu devido lugar, com o reconhecimento público da obra de Erasmo Chrispim.
        
Em seus 17 anos como prefeito, Erasmo Chrispim deixou um enorme legado à educação em Itatiba. Quando assumiu pela primeira vez a Prefeitura, na década de 1930, a única escola da cidade era o Coronel Julio César, no centro. Ao longo dos seus cinco mandatos, construiu sete instituições de ensino na área urbana: Escola Municipal de Ensino Básico “Coronel Francisco Rodrigues Barbosa”, Escola Técnica Estadual “Rosa Perrone Scavone” (antiga Escola Artesanal e Ginásio Industrial Estadual), Escola Municipal de Ensino Básico “Coronel Manoel Joaquim de Araújo Campos”, Escola Estadual “Manoel Euclides de Brito” (antigo Cenemeb – Colégio e Escola Normal Manoel Euclides de Brito), Escola Técnica Comercial, Escola Normal Municipal e, ainda, a escola municipal da Vila Cruzeiro.
Construiu ainda escolas em seis bairros rurais: Cocais, Tapera Grande, Mombuca, Ponte, Pires e Morro Azul. Outra obra meritória de Erasmo Chrispim na área da educação foi a total reorganização da Biblioteca Municipal Francisco da Silveira Leme – “Chico Leme”, nos baixos do Paço Municipal.

Quanto à faculdade, temos de reconhecer categoricamente que, nestes quase 50 anos, fez uma enorme diferença para o progresso de nossa cidade e de suas famílias. A Faculdade garantiu melhores oportunidades de emprego e estudo a muitos jovens itatibenses, ofereceu bolsas de estudo aos seus funcionários e, por um período, aos seus filhos. A instituição aqueceu a economia local, com vinda de estudantes de outras cidades que, em muitos casos, constituíram famílias e construíram suas vidas nesta cidade.
 Hoje, o Campus de Itatiba da Universidade São Francisco oferece 12 cursos de nível superior e outros de pós-graduação, mestrado e doutorado. Prepara cerca de 3500 estudantes e emprega quase 300 trabalhadores entre funcionários e professores. Trata-se de um patrimônio da cidade e razão de imenso orgulho para seus cidadãos, originado na proposta e no empenho de Erasmo Chrispim de oferecer ensino superior aos jovens itatibenses e de formar profissionais para Itatiba, sua região e, atualmente, para o mundo.

artigo publicado no Jornal de Itatiba - Diário
Coluna Opiniões - 16/09/2018