Mulheres na Política Itatibense
“Uma mulher na
política muda a [própria] mulher.
Muitas mulheres na política mudam
a política”
Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile
Desde a eleição municipal de 1947, a primeira do período de redemocratização, os itatibenses elegeram 243 vereadores. Desse grupo, somente 14 do sexo feminino. Em 73 anos, tivemos apenas 5,76% de mulheres na história da Câmara Municipal de Itatiba. A quebra da hegemonia masculina no Legislativo itatibense ocorreu nas eleições de 1982.
O feito tem a autoria da advogada
Lia de Araújo Oliveira Marchi. Dra. Lia, quatro anos depois, foi também a
primeira mulher a ser reeleita vereadora em Itatiba, em 1986. Predestinada a
quebrar reinados masculinos, ela derrubou mais um tabu em 1991, quando foi
eleita a primeira e única mulher a presidir a nossa edilidade. Em 1992, Dra.
Lia encerrou um período de dez anos como nossa vereadora.
A partir desse feito, mais 13 vereadoras foram eleitas
para a Câmara Municipal: Marina Bredariol Almeida (1997-2000); Ester Dalcin
Sibinelli, dois mandatos (1997-2004); Irene Araujo de Camargo Pires Fumach, três
mandatos (2001-2012); Roselvira Passini (2017-2020); Deborah Cássia de Oliveira
(2017-2020); Elizabet Tsumura (2017-2020); Luciana Bernardo (2021-2024); Leila
Bedani, dois mandatos (2016-2024). A eleição de 2016 foi a que mais deu vitória
a mulheres. Quatro se elegeram, porém, Elizabeth e Roselvira licenciaram-se para
assumir cargos administrativos na Prefeitura.
Duas vereadoras merecem destaque especial pela
dedicação à política itatibense: as professoras Marina Bredariol Almeida e Irene
Araújo de Camargo Pires Fumach.
Marina demonstrou sua determinação e coragem para servir
Itatiba ao longo de 20 anos de carreira política. Desde sua primeira e única que
foi eleita, em 1996, disputou nove pleitos. Por razões que só os astros e
deuses da política local podem explicar, não conseguiu ser eleita prefeita de
Itatiba, cargo que disputou em três ocasiões. Também disputou por duas vezes o
cargo de vice-prefeita, sem sucesso. Porém, obteve expressivas votações locais em
suas candidaturas à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados. Em 2002, conquistou
43,2% dos votos em Itatiba e, em 2006, 42,35%. Os porcentuais não foram suficientes
para elegê-la. Neste século, nenhum candidato itatibense chegou perto desses números
de Marina.
Irene disputou quatro eleições e foi eleita em três
delas. Em 2012, sua última campanha, conquistou 921 votos, mas não se elegeu em
função do quociente eleitoral. Houve vereadores empossados com menos votos. Irene
foi a candidata mais votada na eleição de 2000, quando obteve 1.589 votos –recorde
ainda não superado por nenhuma outra candidata. Ao longo de 12 anos, foi uma
das primeiras-damas mais queridas e admiradas pela população itatibense e
inovou em suas ações do Fundo Social de Solidariedade.
Em 1992, Itatiba registrou o lançamento da primeira
candidatura de mulher à Prefeitura, a de Maria Eunice de Lourdes Milda Mancin
de Camargo. Obteve 13,69% dos votos, que não foi suficiente para elegê-la. Foi
a primeira-dama que quebrou paradigmas e ditou uma nova diretriz para a função.
Criou o Fundo Social de Solidariedade e foi Diretoria de Saúde e Promoção Social.
Era conhecida por não ter medo de nada,
tanto que em uma das enchentes que assolou Itatiba na década de 1980, entrou no
meio das enxurradas para socorrer famílias. Eunice foi também candidata a vice-prefeita
em 1996, mas não se elegeu.
Se as leis e regras eleitorais de 2022 forem mantidas no pleito
de 2024, vejo boas notícias para as potenciais candidatas. Duas merecem
atenção:
·
Redução
do número de candidatos: na eleição municipal de 2020, cada partido podia
lançar até 26 nomes. Agora, serão até 18 por legenda ou federação (100% das
cadeiras +1), das quais seis vagas serão reservadas para as mulheres (30%).
·
Recursos e
cotas: a Emenda Constitucional 117 prevê acesso das candidatas a, no mínimo,
30% dos recursos do Fundo
Especial de Financiamento de Campanha e do Fundo Partidário; a mesma cota valerá
para o tempo de propaganda em rádio e TV.
Com a redução do número de candidatos e mais tempo de mídia e recursos
financeiros para as mulheres, os caciques terão de esquecer a velha prática de
preencher a cota feminina com as amigas e familiares, somente para cumprir os
termos da lei. Precisarão contar com mulheres empoderadas, com potencial de
voto e projetos capazes de atender às demandas da população. Os caciques têm de
investir desde já nas possíveis candidaturas femininas.
A
Câmara Municipal de Itatiba precisa de maior presença feminina. Mulheres são
mais orientadas para as pessoas do que os homens, enxergam o mundo desde a
perspectiva do grupo, do "nós". Elas têm empatia com as suas pautas.
Além do preparo para enfrentar qualquer pauta política a ser apresentada
durante a legislatura, compõem a parcela com real conhecimento sobre saúde, aborto, educação, assédio
moral e sexual, maternidade, segurança alimentar, igualdade de gênero, empobrecimento menstrual, jornada dupla de
trabalho, desigualdade
salarial, sub-representação em cargos eletivos e na administração pública,
entre outros tópicos.
As mulheres representam mais da metade da população brasileira e, em
pleno século 21, não podem continuar sub-representadas na política. O
patriarcalismo esgotou-se, o preconceito não se sustenta e a competência das
mulheres em funções públicas está mais do que confirmada. Elas têm o poder de criar
propostas claras, objetivas, eficientes e de práticas para a melhoria da vida
dos itatibenses. Há necessidade inquestionável de termos mais mulheres atuantes
no campo da política.
Esperamos que numa eleição, não tão distante, se quebre mais um tabu, e
Itatiba eleja a sua primeira prefeita.
Artigo publicao no Jornal de Itatiba - 08/03/2023
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