sexta-feira, 24 de outubro de 2025

DIA DO CONSERVADORISMO






  Itatiba celebra símbolos e ignora Futuros

Sim, meus caros, Itatiba acaba de ganhar um novo marco em seu calendário: o Dia do Conservadorismo. Aprovada com pompa e circunstância pela Câmara Municipal, a data – a ser comemorada todo 10 de março — já nasce com tamanha relevância que deixa até o Dia do Fusca envergonhado.

Enquanto parte de nossos vereadores se dedica a aprovar temas de relevância, no mínimo, duvidosa, um silêncio inquietante paira sobre uma crise real e urgente: o êxodo silencioso de nossos jovens do ensino médio. Os números não mentem. Segundo o Centro de Liderança Pública, Itatiba despencou 84 posições no ranking de acesso ao ensino médio em 2024 e ocupa a vergonhosa 164ª posição no Brasil*. 

Diante desse cenário, é legítimo perguntar: estamos mesmo "conservando" o que importa? O ensino médio, etapa crucial que define trajetórias de vida, é de responsabilidade direta do governo do estado. Portanto, a pergunta que se impõe é: não seria a atitude mais genuinamente conservadora a edilidade cobrar incansavelmente o governador — e conservador — Tarcísio de Freitas o cumprimento de sua “promessa” de mais uma escola de ensino médio para Itatiba? 

A construção de escolas de ensino médio nas regiões periféricas de Itatiba, poupará nossos jovens de jornadas exaustivas de ônibus — uma barreira concreta que alimenta a evasão escolar. Enquanto a “promessa” de uma nova escola é somente uma “promessa”, a evasão, alimentada pela necessidade de trabalhar ou procurar emprego, responde por 39,1% do abandono escolar no país (IBGE), continua sua marcha silenciosa.

Senhores vereadores, vocês foram eleitos por um grupo, mas agora representam a cidade toda, portanto: 

É de vossa obrigação promover estudos e debates que de fato escutem as dores, necessidades e motivações da nossa juventude, principalmente nos alunos que estão concluindo o 9º ano do ensino fundamental. É preciso entender por que a falta de interesse responde por 16,5% das saídas da escola e, a partir daí, construir com eles um futuro que faça sentido. Um futuro que dialogue com o que eles sonham e esperam conquistar em suas vidas.

É de vossa obrigação propor e negociar junto ao executivo medidas concretas que derrubem as barreiras que afastam os nossos jovens da escola. Isso inclui desde programas de incentivo financeiro — nos moldes do ‘Pé de Meia’ federal — até a garantia de transporte gratuito, que anule o custo de deslocamento. 

Senhores vereadores: 

Daqui a vinte anos, o que terá mais valor para vocês: uma foto desbotada ao lado de uma placa simbólica ao Dia do Conservadorismo, ou a lembrança viva de uma geração de jovens que conseguiu concluir o ensino médio e ingressar na faculdade? 

Esses sim seriam os projetos dignos de aprovação. 

Esses sim seriam os legados dignos de celebração.

A criação do 'Dia do Conservadorismo' vai muito além de uma mera homenagem calendária, revela-se um gesto político calculado para consumo de um nicho ideológico específico. 

No entanto, assim como ocorreu com o 'Dia do Fusca', sua utilidade prática para a população será nula. Restará, no fim das contas, apenas a constatação de que se trata mais de um símbolo vazio do que de uma ação concreta para melhorar a vida dos cidadãos itatibenses. 

É triste! Mas é o legado que a Câmara Municipal de Itatiba optou por construir.

 

* Fonte: Ranking CLP — Centro de Liderança Pública.

https://rankingdecompetitividade.org.br/municipios/




sexta-feira, 17 de outubro de 2025

O FAZ DE CONTA POR TRÁS DOS VÍDEOS DOS VEREADORES

 



Machado de Assis, um dos maiores escritores do Brasil, parece ter previsto nossa era digital. Em "Teoria do Medalhão", seu conto sobre a arte de triunfar na vida não pelo talento, mas pela bajulação, superficialidade e fama vazia, ele poderia estar descrevendo o manual de sobrevivência do político moderno. Se vivesse hoje, não teria dúvidas: diagnosticaria as redes sociais como a vitrine definitiva dos medalhões do século XXI. 

É nesse cenário que a política se transforma em coreografia ensaiada. Já não são necessárias tribunas nem salões — bastam um celular, um filtro digital e uma boa dose de desfaçatez. Tudo com um roteiro teatral, onde vigora uma lei não escrita: a arte de se apropriar do que já está pronto. Alguns vereadores governistas encenam um reality show de conquistas, sobre o pano de fundo silencioso das obras já concluídas. Passeiam por realizações alheias, transformando o cronograma da prefeitura em seu próprio currículo. Protocolam requerimentos solicitando melhorias, omitindo cuidadosamente em suas redes que a solicitação já constava no cronograma oficial da prefeitura.  Assim, o "faz de conta" deixa de ser artimanha e consolida-se como método de trabalho. Enquanto isso, nas ruas, a oposição dedica-se a garimpar problemas e omissões..

Caso real:  O Ar-Condicionado Profético

Um caso de alguns anos atrás, digno de registro, ilustra com perfeição essa dinâmica. A concessionária de transporte público de uma pequena cidade paulista estava para receber uma nova frota. É importante entender: comprar um ônibus não é como comprar um pão na padaria. O processo é lento — primeiro adquire-se o chassi, que depois segue para a montagem da carroceria e a pintura nos padrões da empresa, em seguida a compra e instalação dos equipamentos constantes no contrato com a prefeitura. Um ciclo que naturalmente consome meses entre o pedido e a entrega. Pois bem. Um nobre vereador, convenientemente munido de informações privilegiadas sobre a data de entrega dos ônibus  — e, pasmem, de que os veículos já viriam com ar-condicionado —, decidiu agir. Vinte dias antes da chegada da nova frota, protocolou um solene requerimento, no qual solicitava que os novos ônibus fossem  equipados exatamente com o mesmo ar-condicionado que já estava instalado neles. Para comprovar seu "trabalho visionário", postou em suas redes o documento protocolado, atribuindo a si uma conquista que já era fato consumado. 

O Preço da Encenação

Várias outras ações semelhantes pipocam nas redes sociais. Desde entrega de uniformes escolares, implantação do Refis, obras em vias públicas, muros caindo e milagrosamente reconstruídos e reformas diversas. Tudo ensaiado com o executivo: script pré-formatado em um teatro coreografado para criar a ilusão de trabalho no palco digital. Tudo pelos likes! 

A pergunta que se impõe é: quando a encenação fica tão evidente, o que resta além do constrangimento público? Restam os frutos amargos da própria irrelevância. Ao se reduzirem a meros instrumentos de divulgação do Executivo, os vereadores renunciam a seu verdadeiro poder: o de fiscalizar, propor e representar diretamente seus eleitores. Transformam-se em influencers do poder, hipnotizados pelos aplausos de um público que, muitas vezes, nem sequer foi quem os elegeu. 

Enquanto isso, a oposição ocupa o vácuo que deixam. E não precisa criar crises — basta somente apontá-las e colher dividendos políticos reais: nas dores tangíveis da população quanto à saúde, educação e serviços públicos.

No grande teatro da política, quem aceita o papel de coadjuvante acaba esquecido atrás das cortinas. O palco devora os que se contentam com migalhas de visibilidade. 

Fabio Chrispim Marin é consultor em Marketing Politico e Comunicação 


sexta-feira, 10 de outubro de 2025

CRÔNICA DE UMA CRISE NA SAÚDE: ENTRE A REALIDADE E A SÁTIRA

 





    A pequena cidade de Conservadora enfrentava uma crise econômica sem precedentes, que preocupava a população e deixava os cabelos brancos do prefeito literalmente em pé.
No setor de saúde, os reflexos eram graves: uma UBS fechada, Unidades Avançadas de Saúde (UAS) com horários de atendimento reduzidos e uma drástica limitação na emissão de guias para procedimentos e exames — pasmem — até mesmo os de fezes. A situação, no entanto, não era exclusividade do município: atingiu várias cidades que negligenciaram o planejamento para o aumento de receitas próprias. A participação do IPTU e do ISSQN no orçamento de Conservadora permaneceu praticamente inalterada nos últimos anos e com uma leve tendência à queda.

Preocupado com a dimensão da crise na saúde, o alcaide — acostumado a ouvir somente sua corte — resolveu subir ao alto do Monte da Humildade, centro de erudição, filosofia e espiritualidade, para pedir conselhos aos sábios mestres que lá viviam reclusos. Após dissertar sobre os problemas da cidade, ouviu algumas reprimendas, que não conseguiu prestar atenção devido aos incontáveis alertas do Zap que apitavam a todo instante. Preocupados com a falta de concentração do discípulo, os sábios prepararam um pergaminho com duas orientações para reverter a crise: 


1. Empatia e Comunicação
Mais empatia com a população. A prefeitura deveria fazer um comunicado oficial prévio para tranquilizá-la. Como não o fez, os mestres sugeriram ganhar tempo até conseguir recursos. Em consenso, recomendaram um pronunciamento oficial atribuindo a queda de receita à taxação de produtos brasileiros pelos EUA. Os mestres garantiram que os cidadãos verdadeiramente conservadores iriam acreditar piamente na história. Mas, antes — pois sempre há um "mas" ao consultar os sábios do Monte da Humildade —, ele teria de explicar para a população o motivo do aumento dos cargos comissionados, justamente quando a saúde pública dava seus primeiros sinais de colapso. Para os mestres, foi um pecado que nem mesmo líderes ávidos por bajular o parlamento ousarIam cometer.


2. Medida Drástica e Desumana (Mas Necessária):

Exonerar parte dos comissionados recentemente contratados, incluindo filhos e apadrinhados dos vereadores. O prefeito tentou argumentar com os mestres se não haveria outra solução. Para poder nomeá-los, quebrou o compromisso público de não contratar parentes de vereadores, além do que, era desumano e contra os seus princípios demitir filhos de vereadores. Segundo o mestre das finanças, a medida era de extrema necessidade e que geraria uma economia de cerca de 💰um milhão de reais anuais — valor suficiente para reabrir as UAS em período integral e realizar inúmeros procedimentos e exames. Como contrapartida aos edis, os mestres sugeriram que ele gravasse um vídeo agradecendo a "abnegação e altruísmo" dos vereadores por atenderem "uma demanda urgente da população que mais necessita". Também, deveria negociar com o presidente da Câmara a outorga do título de Vereador Altruísta do Ano — honraria que, certamente, deixaria os vaidosos vereadores orgulhosos.


Momento de Reflexão
Após uma sessão de Cantos Zen em um local do monte destinado ao relaxamento e à meditação, o prefeito sentiu-se mais aliviado e confiante. Permaneceu, porém, apreensivo com a reação de seus aliados na Câmara — que iriam perder os cargos negociados "no fio do bigode". Questionava-se onde encontraria forças para outro ato tão cruel! Lembrava-se do seu último ato desumano: dificultou o acesso ao concurso público para centenas de cidadãos Conservadorenses. As provas foram realizadas principalmente em outras cidades, impedindo que muitos conseguissem chegar aos locais do exame. Lembrava-se de não ter tido empatia com os concurseiros e de não lhes dar uma mínima explicação. Estrategicamente, para se livrar da culpa, conseguiu passar a responsabilidade para quem organizou o concurso. Águas passadas…Agora, exonerar filho de vereador com cargo comissionado! Seria muita maldade…


Antes de se despedir do Grão-Sábio Mestre — uma espécie de Dalai Lama local —, o prefeito recebeu um envelope com a instrução de abri-lo somente no Palácio Municipal.


De Volta à Realidade
De volta ao Palácio, a corte e os vereadores da base o tranquilizaram: não seria necessário cortar cargos nem gravar vídeos. Uma viagem a Brasília 🛫em busca de emendas com deputados federais resolveria tudo. Foram  felizes, cheios de esperança, gravaram vídeos e cantaram em uníssono a música oficial da excursão: 


🎵 Um vereador incomoda um prefeito. Dois vereadores incomodam, incomodam muito mais. Três vereadores incomodam um prefeito. Quatro vereadores..🎵. 


Nos gabinetes, posaram para fotos sorridentes como turistas no Cristo Redentor. Fizeram vídeos caminhando em câmera lenta pelos corredores do Congresso, com olhares profundos de quem estava "fazendo história". Voltaram de mãos vazias. A única emenda que conseguiram foi a dos vídeos, para postarem nas redes sociais como "produtiva agenda de trabalho". Quanto aos títulos de Vereador Altruísta do Ano, por unanimidade, eles não abriram mão da honraria.


 Dias depois, tranquilo e na solidão de seu gabinete, o prefeito lembrou-se da carta do Grão-Sábio Mestre. Abriu o envelope e leu a última recomendação:

"Prefeito, esperamos ter auxiliado sua administração a superar esta crise, que, embora previsível, não fez parte de seu plano de governo. Com planejamento, medidas fortes, empatia, humildade e uma boa comunicação, você sairá da crise. Se nada der certo, resta uma última alternativa: rezar e esperar que a política e o mercado se autorregulem. Afinal, como diria Ronald Reagan: “Não espere que a solução venha do governo. O governo é o problema.”

Ass.: Grão-Sábio Mestre do Monte da Humildade


Aviso importante: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com épocas, crises, prefeituras, prefeitos, vereadores, viagens a Brasilia, locais, slogans, cargos, nomes, alcunhas, títulos ou pessoas será “uma puta coincidência”.

Fabio Chrispim Marin


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Ribeirão Jacaré: A Morte Anunciada?

    A prefeitura de Itatiba realiza uma intervenção radical no Ribeirão Jacaré, da região do Jardim de Lucca até as proximidades da ETE Sabesp. O objetivo declarado é nobre: prevenir enchentes e melhorar a mobilidade urbana. O método escolhido, porém, representa um retrocesso ambiental que pode trocar um problema por uma catástrofe anunciada. Enquanto cidades modernas evoluem para soluções baseadas na natureza, Itatiba insiste em repetir os erros do passado. O caso mais dramático que ilustra o destino de um rio canalizado encontra-se a poucos quilômetros: as marginais do Tietê, em São Paulo. Um rio convertido em depósito de esgoto e lixo, com custos astronômicos para a sua recuperação e prejuízos imensuráveis à qualidade de vida dos paulistanos.

O cenário do Tietê pode se repetir em Itatiba: a supressão de microflorestas, árvores frutíferas, espécies nativas como Pau-Brasil e da mata ciliar pode gerar danos ambientais permanentes e irreversíveis. As consequências são previsíveis: aumento drástico da temperatura local, extinção de espécies e degradação do ribeirão Jacaré. O mais grave é que, até o momento, a prefeitura não apresentou à sociedade um plano de reposição florestal. A reposição não é uma mera sugestão; é uma obrigação legal e moral inegociável.

Exemplos de sucesso como o de Curitiba demonstram que existem alternativas inteligentes. Os parques inundáveis conciliam drenagem com áreas de lazer, criando espaços verdes que previnem enchentes sem prejudicar os rios. Enquanto o prefeito celebra a obra nas redes sociais, a realidade para a população itatibense é de total opacidade: a prefeitura permanece sem responder questões cruciais sobre os impactos reais desta intervenção na qualidade de vida dos itatibenses. A Câmara de Vereadores, cuja função é exatamente fiscalizar, compactua 100% com esse silêncio. Em razão da falta de transparência, é necessário que a prefeitura responda às seguintes perguntas publicamente:

  • A prefeitura tem consciência de que cada árvore nativa e frutífera removida representa a destruição de um habitat inteiro? Que é uma sentença de morte para a fauna que dela depende?

  • Compreendem que a mata ciliar é a armadura viva do nosso ribeirão? Sem ela, o assoreamento e a poluição condenam o Jacaré a se tornar um canal doente, comprometendo suas funções de corredor de biodiversidade e termorregulador natural do clima?

  • Quanto aos moradores do entorno? Alguém os informou que, no lugar da vegetação, herdarão uma ilha de calor insuportável, onde o concreto e o asfalto irradiarão temperaturas altíssimas, e a região em torno do ribeirão ficará abafada e insalubre?

  • Onde está o plano de reposição? Quantas árvores foram suprimidas? O replantio priorizará espécies nativas e a criação de quantos parques lineares?

O prefeito acredita estar construindo seu legado. Contudo, pode ser que não seja reconhecido no futuro por solucionar as enchentes, mas por devastar o meio ambiente de Itatiba. A história poderá registrá-lo como responsável por um retrocesso ambiental. O futuro do ribeirão Jacaré e de nossa cidade demanda decisões transparentes e participativas. Não pode ser decidido no silêncio de um gabinete.

Em 20 anos, ao olharmos para o Ribeirão Jacaré, o que veremos? Um canal de concreto morto e poluído como as marginais do Tietê? Ou um coração verde pulsando a vida? A decisão final cabe ao prefeito, mas a cobrança é nossa. E a mobilização começa já.

Compartilhe este texto. Faça ecoar este debate e cobre respostas!
Vamos juntos reescrever este capítulo!!!

Fabio Chrispim Marin
E daqui a gente segue tentando preservar o meio ambiente de Itatiba.


sexta-feira, 26 de setembro de 2025

A oportunidade turística que Itatiba ainda não enxergou.

 




A Feimoc — Feira da Indústria e do Móvel Colonial, nas décadas de 1960 e 70, foi muito mais que uma feira: foi um exemplo bem-sucedido de como promover uma cidade. Ao consolidar Itatiba como a "Capital Brasileira do Móvel Colonial", a iniciativa não apenas gerou turismo e riqueza, mas criou uma identidade clara e poderosa para a cidade no cenário nacional. No entanto, com o declínio do setor, nossos gestores cometeram um erro estratégico fatal: abandonaram o trabalho de branding e permitiram que essa identidade se perdesse. Uma miopia crônica os impediu de entender que, no turismo, uma marca forte é o principal ativo de um destino – e sem investimento contínuo, ela se dilui até desaparecer.


Essa mesma miopia está fazendo Itatiba desperdiçar uma das suas maiores oportunidades recentes: o título de Município de Interesse Turístico (MIT), conquistado em 2018. A classificação abriu as portas para cerca de R$ 4 milhões em recursos estaduais, aplicados na infraestrutura turística. Desde então, foram  elaborados dois Planos Diretores de Desenvolvimento Turístico. No entanto, o essencial ficou faltando: nenhuma ação estratégica de marketing foi realizada para criar uma identidade e consolidar Itatiba como destino turístico.  Como resultado, o pouco reconhecimento que Itatiba possui hoje deve-se  exclusivamente a iniciativas privadas, como o Zooparque, a Federação Ornitológica, a pista de arrancada SPID Cup, hotéis-fazenda e a realização de casamentos.

Até mesmo o caqui, com suas grandiosas festas anuais, permanece subexplorado. A fruta carece de uma marca forte — um “Caqui de Itatiba”, como fez Jundiaí com a sua Uva Niágara. Uma rápida pesquisa no Google para “cidades produtoras de caqui” revela a ausência de estratégia: Itatiba aparece somente em uma matéria da prefeitura — nenhum destaque em veículos do setor agrícola ou turístico. 

Nosso cartão-postal ignorado: a Princesa das Colinas.

A identidade turística de Itatiba está literalmente diante de nossos olhos — basta olhar para cima. A cidade é coroada por um conjunto de elevações únicas que definem sua paisagem, mas que permanecem completamente invisíveis para as políticas públicas. Essa miopia estratégica nos impede de transformar paisagens deslumbrantes em destinos consolidados.

Conheça as joias dessa coroa natural negligenciada:

  • Pico Alto (1.113 m): ponto mais alto da região, com potencial excepcional para ecoturismo e contemplação.

  • Pico da Jurema (940 m): abriga projeto visionário do arquiteto Cid Camargo para mirante e restaurante — aguarda há anos um gestor com a mesma ousadia.

  • Serra dos Cocais (970 m): uma das últimas serras do Planalto Atlântico no interior, com afloramentos rochosos e biodiversidade única.

Esses locais são a base concreta para reposicionar Itatiba. Por meio de políticas públicas de incentivo e de Parcerias Público-Privadas (PPPs), a implantação de mirantes, parques e restaurantes nestes locais pode finalmente consolidar nossa vocação turística. O potencial não se limita às áreas rurais: no centro urbano, a torre da Matriz oferece vistas deslumbrantes do núcleo histórico, provando que nossa geografia favorável nos acompanha até o coração da cidade.

Cada elevação representa uma oportunidade estratégica para desenvolver o turismo de natureza, aventura, trilhas e experiências eco culturais — cenários perfeitos para viralizar nas redes sociais. Itatiba não precisa ser construída do zero; precisa ser descoberta. Cada foto, story, tag com #PrincesaDasColinas, #PicoAltoItatiba, #SerradosCocaisItatiba, #TorredaMatrizItatiba é um convite gratuito para o mundo conhecer a nossa Princesa das Colinas. Uma propaganda gratuita que nossos gestores insistem em ignorar.

O futuro do turismo em Itatiba não está no chão — está no alto de nossas colinas. Basta ter a coragem de subir e plantar a bandeira de uma nova era para a economia local.

Fabio Chrispim Marin


sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Como Itatiba perdeu a Coca-Cola e o que isso diz sobre o nosso futuro.

 




Um episódio dos anos 1970 é emblemático e define a miopia estratégica que acompanha Itatiba: na época, corria o boato de que industriais locais haviam feito lobby contra a instalação da Coca-Cola por medo de concorrência por mão de obra. A realidade, porém, era outra. Nosso maior obstáculo era a infraestrutura — as rodovias Dom Pedro I e Constâncio Cintra, ainda não eram duplicadas, o que inviabilizava a logística da empresa. Jundiaí, com visão estratégica, ofereceu um terreno próximo à rodovia Anhanguera. Mesmo sem recursos hídricos suficientes, resolveu o problema com criatividade e articulação — e, com apoio do governo do estado, passou a captar água do Rio Atibaia, aqui em Itatiba. A Coca-Cola se instalou, atraiu outras gigantes como a Pepsi e transformou Jundiaí em um polo industrial de relevância nacional. Itatiba, entretanto, ficou à deriva.

Esse caso não é somente uma história do passado; é o sintoma de uma carência histórica que persiste: a ausência de um planejamento estratégico de longo prazo, apoiado em estudos técnicos e participação social. Itatiba sofre de uma miopia crônica que a impede de enxergar além do horizonte eleitoral. Enquanto outras cidades se planejam para as próximas décadas, nós ainda patinamos em responder a uma pergunta fundamental: o que Itatiba quer ser quando crescer? Em outras palavras, Itatiba não possui um projeto de cidade. Não tem um DNA.

Ciclo após ciclo, testemunhamos a repetição de padrões. As gestões dedicam-se naturalmente a obras de visibilidade — importantes para vincular a imagem do gestor a um legado concreto — e a ações essenciais do cotidiano: zeladoria, saúde, educação, mobilidade e resposta a crises. Vale destacar as obras e ações preventivas, como programas de manutenção preditiva e intervenções contra enchentes, mas mesmo essas, em sua maioria, ainda são reativas. Há anos, não vemos nenhuma ação estratégica para posicionar Itatiba no cenário regional ou nacional. Falta-nos uma identidade clara, uma marca que vá além de slogans e se traduza em desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentáveis. A história recente ilustra bem essa carência de visão. Itatiba já foi celebrada como a Capital Brasileira do Móvel Colonial, mas não soube se reinventar diante das mudanças no consumo. 

Precisamos corrigir urgentemente o foco. A nova perimetral — que interliga quatro rodovias: Romildo Prado, Constâncio Cintra, Alkindar Junqueira e Dom Pedro I — é uma oportunidade ímpar para os setores imobiliário, turístico, logístico e industrial. Mas onde está o planejamento para seu entorno? Há quanto tempo essa obra era aguardada, sem que se ouvisse falar em estudos de viabilidade ou incentivos para atrair investimentos? Ignorar essa chance é repetir erros passados. Como o da duplicação da Dom Pedro I, quando Itatiba não criou zonas industriais ou logísticas ao longo da rodovia. Enquanto isso, Jarinu, nossa vizinha, soube aproveitar oportunidades e hoje exibe um PIB per capita quase 31% superior ao nosso. 

Itatiba tem potencial incontestável: localização privilegiada, belezas naturais, base empresarial diversificada e malha rodoviária estratégica. Para realizá-lo, é urgente redefinir nosso DNA econômico e elaborar um plano ousado e profissional — com participação de especialistas, setor privado e sociedade civil. Para enxergar o futuro, Itatiba precisa de lentes de longo alcance. Só assim focaremos com clareza o amanhã que merecemos. 


Fabio Chrispim Marin 

Um itatibense incomodado com as miopias crônicas de Itatiba.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Jacke Boava: a aposta de Thomás Capeletto vai dar certo?

 




Em um vídeo postado em suas redes sociais no dia 7 de setembro de 2025 — exatamente três anos antes das eleições municipais —, a secretária de Governo, Jackeline Boava, agora "Jacke Boava", posicionou-se claramente como a sucessora natural do prefeito Thomás Capeletto. A produção impecável do material, da roupa à criação de uma marca pessoal, indica um movimento meticuloso. Mas será que essa estratégia, que parece replicar em miniatura o bem-sucedido plano de Lula para Dilma Rousseff, será eficaz?


A história recente da cidade sugere cautela. Os dois últimos prefeitos reeleitos que tentaram emplacar seus sucessores falharam dramaticamente. O erro de Fumach (2008) e de Fattori (2016) foi idêntico: a demora em indicar oficialmente seu candidato. O que ambos tinham em comum? Terminaram seus mandatos com alta rejeição. Fumach, mesmo com a entrega do Parque da Juventude, não reverteu o desgaste de uma reeleição com somente 29,2% dos votos. Fattori, eleito com 59,3%, viu seu poder minguar ao perder o controle da Câmara e enfrentar a lenta reconstrução da cidade no pós-enchente de 2016. Os dois casos acima comprovam claramente que o eleitor não vota em candidatos apoiados por governos mal avaliados. 


A estratégia de Capeletto é clara: antecipar o jogo. O exemplo bem-sucedido é o de Lula, que começou em 2007 a construir publicamente Dilma como a opção de "continuidade" de um governo popular. A questão a ser avaliada é se a popularidade do governo Thomás em 2028 será alta o suficiente para que a estratégia da "continuidade" funcione. O plano para Jacke segue o mesmo roteiro: primeiro, consolidar seu nome como uma opção viável nas pesquisas. Depois, caso bem-sucedida, trabalhar a própria imagem. Mas será que Jacke Boava conseguirá se desvencilhar da sombra do prefeito e provar que é mais do que uma extensão do governo, apresentando propostas próprias e um olhar único para o futuro da cidade?


A aposta de Thomás Capeletto é alta. Se bem-sucedida, ele não somente garante a continuidade de seu projeto político, mas entra para a história como o primeiro prefeito a quebrar o ciclo de fracassos na sucessão municipal e a eleger a primeira mulher prefeita de Itatiba. Mas o caminho é cheio de incógnitas. A capacidade de Jacke de construir uma identidade política própria, a manutenção da união na base aliada e a transformação da "herança" de Thomás em um trampolim — e não em uma âncora — são fatores decisivos.


Itatiba se transforma, assim, em um intrigante laboratório político. Os próximos três anos trarão a resposta à questão central: a aposta ousada de Thomás Capeletto em Jacke Boava será a jogada mestre que irá reescrever a história política da cidade, ou será mais um capítulo de uma história de sucessões malogradas?


Publicado no Jornal de Itatiba, coluna Opiniões em 13/09/2025


Fabio Chrispim Marin

Consultor de Marketing Político