Um episódio dos anos 1970 é emblemático e define a miopia estratégica que acompanha Itatiba: na época, corria o boato de que industriais locais haviam feito lobby contra a instalação da Coca-Cola por medo de concorrência por mão de obra. A realidade, porém, era outra. Nosso maior obstáculo era a infraestrutura — as rodovias Dom Pedro I e Constâncio Cintra, ainda não eram duplicadas, o que inviabilizava a logística da empresa. Jundiaí, com visão estratégica, ofereceu um terreno próximo à rodovia Anhanguera. Mesmo sem recursos hídricos suficientes, resolveu o problema com criatividade e articulação — e, com apoio do governo do estado, passou a captar água do Rio Atibaia, aqui em Itatiba. A Coca-Cola se instalou, atraiu outras gigantes como a Pepsi e transformou Jundiaí em um polo industrial de relevância nacional. Itatiba, entretanto, ficou à deriva.
Esse caso não é somente uma história do passado; é o sintoma de uma carência histórica que persiste: a ausência de um planejamento estratégico de longo prazo, apoiado em estudos técnicos e participação social. Itatiba sofre de uma miopia crônica que a impede de enxergar além do horizonte eleitoral. Enquanto outras cidades se planejam para as próximas décadas, nós ainda patinamos em responder a uma pergunta fundamental: o que Itatiba quer ser quando crescer? Em outras palavras, Itatiba não possui um projeto de cidade. Não tem um DNA.
Ciclo após ciclo, testemunhamos a repetição de padrões. As gestões dedicam-se naturalmente a obras de visibilidade — importantes para vincular a imagem do gestor a um legado concreto — e a ações essenciais do cotidiano: zeladoria, saúde, educação, mobilidade e resposta a crises. Vale destacar as obras e ações preventivas, como programas de manutenção preditiva e intervenções contra enchentes, mas mesmo essas, em sua maioria, ainda são reativas. Há anos, não vemos nenhuma ação estratégica para posicionar Itatiba no cenário regional ou nacional. Falta-nos uma identidade clara, uma marca que vá além de slogans e se traduza em desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentáveis. A história recente ilustra bem essa carência de visão. Itatiba já foi celebrada como a Capital Brasileira do Móvel Colonial, mas não soube se reinventar diante das mudanças no consumo.
Precisamos corrigir urgentemente o foco. A nova perimetral — que interliga quatro rodovias: Romildo Prado, Constâncio Cintra, Alkindar Junqueira e Dom Pedro I — é uma oportunidade ímpar para os setores imobiliário, turístico, logístico e industrial. Mas onde está o planejamento para seu entorno? Há quanto tempo essa obra era aguardada, sem que se ouvisse falar em estudos de viabilidade ou incentivos para atrair investimentos? Ignorar essa chance é repetir erros passados. Como o da duplicação da Dom Pedro I, quando Itatiba não criou zonas industriais ou logísticas ao longo da rodovia. Enquanto isso, Jarinu, nossa vizinha, soube aproveitar oportunidades e hoje exibe um PIB per capita quase 31% superior ao nosso.
Itatiba tem potencial incontestável: localização privilegiada, belezas naturais, base empresarial diversificada e malha rodoviária estratégica. Para realizá-lo, é urgente redefinir nosso DNA econômico e elaborar um plano ousado e profissional — com participação de especialistas, setor privado e sociedade civil. Para enxergar o futuro, Itatiba precisa de lentes de longo alcance. Só assim focaremos com clareza o amanhã que merecemos.
Fabio Chrispim Marin
Um itatibense incomodado com as miopias crônicas de Itatiba.

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