Em Brasília, tramita a PEC 12/2022, que propõe extinguir a reeleição para chefes do Executivo — presidente, governadores e prefeitos — e ampliar os mandatos para cinco anos. O texto, porém, ganhou novas dimensões com uma emenda que pode transformar profundamente o cenário político dos municípios: a unificação de todas as eleições brasileiras a partir de 2034, alinhando em um único pleito as disputas municipais, estaduais e federais.
Para viabilizar essa unificação, seria criada uma regra de transição inédita: prefeitos eleitos em 2020 e reeleitos em 2024 poderiam concorrer novamente em 2028. Um ciclo excepcional de três mandatos consecutivos.
Se a PEC avançar, as eleições de 2034 poderão se tornar as mais complexas da história democrática do país. Em um único dia, o eleitor teria que escolher presidente, dois senadores, deputados federal e estadual, governador, prefeito e vereador. Uma verdadeira maratona eleitoral, que tende a gerar filas extensas, elevar os índices de abstenção, votos brancos e nulos.
Os municípios seriam os principais prejudicados. Suas pautas — mobilidade, saúde, habitação, segurança, empregos, educação — seriam engolidas pela polarização nacional e pela disputa ideológica que domina as eleições gerais. O eleitor ficaria soterrado pelas narrativas nacionais, enquanto temas essenciais do seu dia a dia perderiam espaço. Essa dinâmica abriria caminho para fenômenos típicos da política nacional, como candidatos desgastados em suas regiões, buscarem projeção em outras cidades. Não seria impossível imaginar, por exemplo, alguém associado ao clã Bolsonaro disputar alguma prefeitura, sem sequer conhecer a cidade pretendida, como Carlos, que almeja ser senador por Santa Catarina.
A possibilidade de mais uma reeleição pode gerar um revés histórico e frustrante para diversas lideranças políticas que já se articulam para disputar uma Prefeitura nas eleições de 2028. Muitos desses nomes possuem planejamento estruturado, grupos organizados, base social ativa e discurso pronto para 2028. A partir desse novo cenário, novas estratégias precisam ser definidas para competir com quem está com oito anos de mandato e com possibilidades reais de permanecer mais seis anos no comando da cidade.
Nesse ambiente de incertezas, cada movimento político passa a valer dobrado. A forma como as lideranças reagirem ao novo tabuleiro definirá não somente 2028, mas o próprio destino de seus projetos. A polarização, com a unificação das eleições ou não, estará presente nas disputas municipais, e muitos oportunistas tentarão surfar nela para esconder a ausência de propostas locais. Cabe ao eleitor ficar atento a quem dedica mais energia aos seus ídolos de Brasília do que à sua própria cidade.
Agora, quanto ao eventual terceiro mandato de Thomás, tudo dependerá do destino da PEC 12/2022 — e de uma combinação complexa de variáveis que começam muito antes da urna. Se a PEC passar, Thomás só terá chances reais caso consiga manter altos índices de aprovação, comunicar com precisão suas entregas, neutralizar crises e criar uma narrativa de continuidade indispensável para a cidade.
Do outro lado, seus adversários jogarão pesado. Além de produzir agendas positivas, poderão explorar vulnerabilidades, amplificar desgastes, tensionar erros administrativos, com o objetivo de provocar crises políticas, de narrativas ou institucionais. Entrarão no jogo ainda a ocupação de territórios digitais, alianças inesperadas e tentativas de nacionalizar — ou municipalizar — temas conforme lhes convier.
No fim, o tabuleiro não será somente jurídico ou administrativo: será comunicacional, emocional e narrativo. E quem dominar essas variáveis chega competitivo a 2028 — com ou sem PEC.
Fabio Chrispim Marin
Consultor de Comunicação, Marketing Estratégico e Político

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