O aniversariante de novembro, o “Mercadão Dona Lica”, comemorou mais um ano de história com direito a retreta da Banda Santa Cecília e até bolo de aniversário — uma justa homenagem a um espaço que, há 41 anos, faz parte da memória afetiva de Itatiba.
Talvez o melhor presente que ele pudesse receber neste aniversário fosse algo mais duradouro: um projeto de lei ou decreto municipal que regulamentasse a transferência dos boxes para novos empreendedores, garantindo a vitalidade comercial e a ocupação plena do espaço. Hoje, o entrave nas transferências provoca um problema visível com os boxes vazios: a perda de dinamismo. Por ser um prédio público, o “Mercadão” funciona sob o regime de permissão de uso, e seus boxes são concedidos por licitação, na modalidade leilão. Vence quem oferecer o maior valor pela chamada “joia”. No entanto, a legislação impede a venda ou transferência dessa permissão. Assim, quando o permissionário decide encerrar as atividades, é obrigado a devolver o box ao município, que precisa abrir novo processo licitatório — um trâmite lento, burocrático e desestimulante.
Essa rigidez legal tem um custo alto: desocupações prolongadas e queda no movimento. Por isso, é urgente que o poder público encontre um caminho jurídico equilibrado, que permita a continuidade dos negócios e a chegada de novos empreendedores, sem ferir os princípios da legalidade. Um bom exemplo vem de São Bernardo do Campo, que criou um procedimento regulamentado para a transferência de permissão de boxes. O modelo, simples e transparente, reduziu drasticamente a vacância, aumentou o faturamento geral e o fluxo de visitantes — um resultado que pode ser facilmente replicado em Itatiba.
Apesar dos desafios, o “Mercadão Dona Lica” segue sendo um espaço pulsante, com uma praça de alimentação acolhedora, já consolidada como ponto de encontro de amigos e famílias. É um universo de cores, sabores e produtos regionais: bancas de agropecuária, pesca, hortifruti, temperos, massas, doces, uma infinidade de bebidas e queijos. Um cenário que encanta qualquer amante da boa gastronomia. Mais do que um centro de compras, é um espaço de convivência e cultura, símbolo da identidade itatibense, que precisa ser revitalizado comercialmente, com políticas inteligentes e gestão moderna.
Os mercados municipais vêm se reinventando. O segredo tem sido a combinação de gestão eficiente, regulamentação moderna e estratégias de marketing bem planejadas, que valorizam o comerciante e a experiência do visitante. Em Campinas, o Mercado Municipal passou recentemente por uma ampla revitalização física e de marca, transformando-se em polo turístico e gastronômico, com eventos, oficinas e campanhas que reforçam sua ligação com a cidade. Já em Sorocaba, a modernização incluiu capacitação dos permissionários e a criação de uma incubadora de pequenos negócios gastronômicos e artesanais, tornando o espaço dinâmico e inovador.
Esses exemplos comprovam que, com planejamento e visão estratégica, o “Mercadão Dona Lica” pode se consolidar como um espaço de experiências e uma vitrine do que Itatiba tem de melhor: sua hospitalidade, sua culinária e seu empreendedorismo. Itatiba abriga grandes indústrias alimentícias, um setor leiteiro de destaque e uma indústria criativa gastronômica em expansão. Aproximar esse universo do Mercadão é o passo natural para sua revitalização. Com criatividade e articulação, é possível promover degustações, mostras e feiras de produtos locais. Por meio de parcerias entre produtores e comerciantes, o espaço pode se consolidar como um palco permanente da indústria alimentícia e da cultura alimentar de Itatiba.
O “Mercadão Dona Lica” já carrega alma e tradição; cabe à Prefeitura de Itatiba — legítima guardiã de sua marca — cumprir a obrigação histórica de devolver-lhe o brilho e o protagonismo que ele merece.
Fabio Chrispim Marin
Consultor de Comunicação e marketing Estratégico
Artigo publicado no Jornal de Itatiba em 15/11/2026 - Coluna Opiniôes
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