quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Dr. Thomas Capeletto: mudança ou continuidade?

 



    Além de administrar Itatiba com um caixa limitado de recursos, o principal desafio do futuro prefeito municipal, Dr. Thomas Capeletto de Oliveira, será conquistar a aprovação da larga parcela da opinião pública que não lhe deu seu voto. Dos 82.243 eleitores de Itatiba, o candidato do PSDB obteve 20.503 votos, o que significa que 75% do eleitorado itatibense não votou no candidato eleito em 15 de novembro. O prefeito Douglas Augusto Pinheiro de Oliveira (DEM) igualmente recaiu em erro ao subestimar os 71,5% dos eleitores que não votaram nele há quatro anos. A miopia do poder não lhe permitiu pousar um olhar sensível a esses itatibenses que, durante a disputa de 2020, certamente reforçaram sua taxa de rejeição.

    A nomeação dos secretários de administração de Douglas em 2017, sem conhecimento histórico, cultural e geográfico de Itatiba, causou o primeiro desconforto. Sua imagem piorou com as crises da Alface, a devastação das margens do Ribeirão Jacaré, as filas para cirurgias nos hospitais e a falta de transparência sobre os R$ 15 milhões recebidos do governo federal para fazer frente à Covid-19. Durante a pandemia, suas atitudes se espelharam nas do governador João Dória (PSDB) - imposição de barreiras sanitárias e fechamento do comércio - e causaram prejuízos aos comerciantes, além da elevação do desemprego.

    Politicamente, o prefeito Douglas errou também ao "trocar" apoio partidário na Câmara Municipal por cargos públicos. Para tanto, criou secretarias e diretorias "hereditárias", para os quais políticos com ou sem mandatos conseguiram dele a nomeação ou renomeação de seus parentes e esposas. Na eleição de 2020, o resultado chegou a ser trágico para Douglas, que contava com a máquina municipal em suas mãos, e mostrou-lhe por que não se pode lutar com as armas do inimigo: os partidos de sua base com 11 vereadores eleitos nesta eleição tiveram 29.597 votos, enquanto o prefeito recebeu apenas 19.901 votos.

     A história itatibense também explica a vitória do PSDB sobre o DEM/Cidadania na eleição de 2020. O eleitor se mostra temerário e crítico quanto ao futuro quando há turbulências políticas, administrativas e/ou grandes perdas para a cidade, como enchentes e pandemias. Desde a primeira eleição para prefeito de Itatiba depois do Estado Novo, em 1947, houve nessas condições duas situações em que o eleitor itatibense mudou a gestão política da cidade:

    1º Situação: Epidemia e perda de patrimônio municipal

    1951 - Os vereadores eleitos pelo PTN do prefeito Erasmo Chrispim migraram para o PTB, que elegeu Ettore Consoline. Durante o mandato de Ettore, houve dois acontecimentos marcantes na cidade: a desativação da Estrada de Ferro Itatibense, em 1952, e a epidemia da febre tifoide, dois anos depois, que contaminou 909 dos 18.258 habitantes.

    1955 - Erasmo Chrispim (PTN) foi novamente eleito ao derrotar o candidato apoiado por Ettore Consoline, seu vice Pedro Mascagni (PTB-PSP).

    2º Situação – Rejeição, enchentes e pandemia.

    2012 - Os itatibenses reelegem João Fattori (PSDB) que, no biênio 2015-2016, entrega a presidência da Câmara à oposição. O ano de 2016 foi péssimo para a gestão tucana: Itatiba enfrentou em março uma de suas piores enchentes, que deixou inúmeros desabrigados, destruiu lojas, indústrias, escolas, pontes e vias e, em agosto, 192 funcionários comissionados foram exonerados por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Fattori encerrou seu mandato com alta rejeição.

    2016 - O vereador Douglas Augusto, principal opositor de Fattori na Câmara Municipal, elegeu-se prefeito de Itatiba. Além dos problemas politico-administrativos citados acima, enfrentou a pandemia da Covid-19. Também encerrou o seu mandato com alta rejeição.

    2020 – O PSDB elege o Dr. Thomas Capeletto, e Douglas entra para a história como o primeiro prefeito itatibense a não ser reeleito desde 2000, quando houve a primeira disputa em que prefeitos puderam novamente concorrer.

    Esperamos não ser desafiados por intempéries climáticas, crises político-administrativas ou flagelos para a saúde coletiva de Itatiba nos próximos anos e que o Dr. Thomas nomeie seus secretários com base em critérios técnicos, sem se submeter, por ambição de uma rápida aprovação de seus projetos, aos caprichos de alguns vereadores. Este é o momento de saber quais autoridades terão espírito público e demonstrarão fidelidade ao povo itatibense.

    Itatiba precisa ser reconstruída economicamente, necessita gerar mais emprego e renda para a população. E, principalmente, precisa que o prefeito contribua para o resgate da dignidade e do respeito da Câmara Municipal, onde os debates devem se reger pelo interesse comum e não mais pela comodidade dos votos trocados por cargos. É o que o Legislativo e o povo itatibense merecem.

    Fabio Chrispim Marin

    Consultor de Marketing Político e Membro da Academia Itatibense de Letras.

    Publicado no Jornal de Itatiba. 05/12/2020. Coluna Opiniões

 

 

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Um comentário:

  1. Boa Tarde Fábio!
    A pesquisa fake (pesquisa do dia 10 de outubro publicada 20 dias antes do pleito e proibida veiculação pelo Juiz eleitoral) que colocava Dr.Thomas com 15 pontos na frente de Douglas teria provocado um efeito rebanho e decidido a eleição?

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