Uma
crônica para itatibenses que fizeram o footing
na Praça da Bandeira e "namoraram" na Biquinha
Fabio Chrispim Marin
Eucivaldes. Sujeito elegante e bonitão, autodenominava-se
o rei do footing na Praça da Bandeira.
Fanfarreava que sempre "descia" com alguma garota e que não falhava em
nenhum final de semana! Voltava dos seus encontros sempre cheio de prosa, sem
nem um pouco de modéstia sobre a formosura das suas moças. Apesar da boa pinta
e do dom de ser falante, ele era um rapaz muito... mas muito ingênuo. Poucos
acreditavam em suas histórias.
Sua inocência era explicitada nos seus relatos, temas frequentes
do anedotário de seu grupo de amigos. Um dos causos mais relembrados foi a
confissão de Eucivaldes sobre ter falhado na "hora H" com uma moça
que, apesar de "trintona", se dizia donzela. Segundo ele, a falha não
foi pela condição virginal, mas sim pela ausência de pelos pubianos. Todos
ainda relembram a frase de indignação de Eucivaldes sobre aquele acontecido:
- Donde já se viu uma mulher já feita barbear a sua
periquita na navalha?
A partir de um quarto para as dez das noites de domingo,
após o footing, os seus amigos tinham
encontro marcado no Bar Capitólio, reduto boêmio da cidade. O grupo era assíduo
frequentador da casa. Tinha uma mesa cativa, sempre com a presença fiel de
"figuras" tradicionais da cidade. Nesses encontros dominicais, os
assuntos principais eram as proezas do final de semana. Chico Butuca, amigo
inseparável de Eucivaldes, com as suas historias minuciosas, era o narrador mais
esperado daquelas noites.
- Vamos aproveitar que o Eucivaldes
ainda não chegou, pois tenho uma história fantástica dele!
Deu um sinal para Hermano, o eterno barman, trazer uma "cachaça
São Luiz". Ao seu lado estava "Lorota", que pediu para pagar uma
para ele também, com um argumento triste e ao mesmo tempo convincente:
- Sabe Chico, a pior coisa que pode acontecer a um homem
é estar com vontade de tomar uma, não ter dinheiro, e o dono do bar não querer
vender fiado!
Servidas as cachaças, Chico sorveu um gole, estalou os
lábios, acendeu o seu Continental sem filtro, fez uma pausa e caiu numa grande
gargalhada. Ninguém entendeu nada, mas a encenação despertou a curiosidade de todos.
- Estávamos sábado fazendo o footing na praça. A "Ritz", nos seus autofalantes, tocava
grande sucesso de "Papo de Corvo".
Lorota de pronto cantarolou, acompanhado por todos da
mesa: "Domingo é dia de dar volta no
jardim, vai ser legal, vai ser legal".
Chico interrompeu a contaria e continuou:
- Quando vimos duas princesas. Idênticas! Olhei para o Eucivaldes
e o vi de boca aberta. Nem discutimos quem ia ficar com quem. Eram iguaizinhas!
Estávamos perto do coreto. Elas passaram uma, duas vezes, trocamos olhares e,
na terceira vez, eu fiz um sinal com o dedo nos lábios de que queríamos falar
com elas. Na volta seguinte, elas pararam. Marina e Mariana, duas gêmeas.
Angelicais!
- Nos apresentamos e conversamos um pouco. Logo
elas nos convidaram para ir ver retrato de casamento no Foto Parodi, pois
tinham de contar para a mãe, em detalhes, como eram os vestidos das noivas e
madrinhas. Eucivaldes não ficou muito animado. Na verdade, estava meio
desconcertado. Em frente ao Bar Jardim, ele deu uma desculpa de ir ao banheiro,
e ficamos de esperá-las na volta. Foi o tempo de tomarmos três chopps do
Prezotto, e elas apareceram, refesteleiras, comentando cada detalhe dos vestidos
das noivas.
Descemos
até a esquina da praça com o Cine Marajoara, embaixo do caramanchão. Contaram
elas que os pais eram muito religiosos e enérgicos e não queriam saber que elas
namorassem. Seus dois irmãos, gêmeos também, chegariam por volta das nove e meia
para buscá-las. Olhei no relógio e ainda tínhamos pouco mais de uma hora. A
conversa foi esquentando, os primeiros beijos saíram ali mesmo na praça e foram
ficando mais quentes. Elas, definitivamente, não eram tão angelicais assim.
Eu
já não aguentava mais. Chamei o Eucivaldes de lado e falei:
- Vamos para a "Biquinha"?
No que ele concordou
na hora. Fizemos a proposta, e as gêmeas, animadíssimas, toparam.
Na mesa do Capitólio, ninguém dava um único piu. Todos
atentos na narrativa, e alguns, possivelmente, excitados com a história. Chico Butuca
terminou o cigarro, tomou um último gole e continuou.
- Descemos até a Biquinha. Combinei com o Eucivaldes que
o primeiro a "terminar" daria um assobio. Ficamos ali uns três
quartos de hora, mais ou menos. Como não ouvi nada, esperei mais uns cinco minutos
e assobiei. Ele gritou que poderíamos ir. Elas se despediram na esquina da
Comendador e preferiram seguir pelo Jardim da Cadeia. Não deveríamos acompanhá-las,
tinham receio de encontrar os seus irmãos.
Eucivaldes e eu subimos a ladeira e, quando dobramos a
esquina do Grêmio, ele me convidou para tomar uma gelada no Bar Belém. Disse que
tinha um assunto para tratar com o Olívio e, também, que estava com muita sede.
Tomamos várias, com rabo de galo para quebrar o gelo.
Chico deu uma pausa, tomou mais um gole e continuou a
narrativa:
- Para fazê-lo se abrir comigo, inventei alguns detalhes
picantes que tinha acontecido comigo na Biquinha. Mas ele sempre mudava de
assunto. Várias rodadas de bebidas, e nada de Eucivaldes abrir o bico. Calado e
amuado. Pagamos a conta e, já meio altos
das bebidas, começamos a nossa volta para casa. Bom, dois bêbados juntos é
sinal de vontade de tomar uma saideira. Foram apenas 50 metros até o bar do
Português. Depois da terceira rodada, consegui tirar a confissão:
- Como é "fez ou não fez?", falei meio bravo e
sem paciência. Eucivaldes virou numa
talagada só o rabo de galo, deu uma arrepiada da cabeça aos pés. Respirou fundo,
e falou com a sua inocência:
- Não aconteceu nada Chico... Eu fiquei ali com ela,
estava com muita vontade, até trocamos uns beijos... Mas... Ela não tomou
nenhuma iniciativa. Você me conhece... Sou respeitador! Eu esperava uma dica...
E ela não deu a dica! Então, quando você assobiou, viemos embora.
*Os locais e os bares são
reais. Esta é uma obra de ficção, apesar de qualquer semelhança nomes, pessoas,
fatos, acontecimentos ou fatos da vida real terá sido mera coincidência.
Fabião, meu amigo. Não conhecia esse seu lado de cronista. Muito bom, continue.
ResponderExcluirObrigado
ExcluirFábio, que legal, embora você fale que os nomes se assemelhem a alguma coincidência, o fato é que alguns personagens descritos eu os conheci. Apenas uma dúvida onde é Chico Botuca, não seria o Carmo Botuca? Parabéns por nos remeter a um passado inesquecível da nossa outrora e pacata Itatiba e principalmente na Praça da Bandeira! Abraços!
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