sábado, 31 de julho de 2021

Os Móveis e a Miopia

 



Na fábrica, produzimos cosméticos; nas lojas,

vendemos sonhos e ilusão de beleza”

Charles Revson. Fundador da Revlon

 

Na década de 60, o professor Theodore Levitt de Harvard escreveu um artigo denominado “Miopia em Marketing”, que tornou-se clássico sobre o assunto. Basicamente,  o professor destaca a importância do empresário em definir qual é o seu negócio. Não o produto final, mas qual a sua função genérica ou quais as necessidades que o produto ou serviço atende. O foco deve ser o cliente. Como exemplo, ele cita as estradas de ferro americanas, que entraram em decadência, pois os empresários do setor achavam que o negocio era a estrada de ferro quando, na realidade, era o transporte. Trazendo este mesmo exemplo para Itatiba, temos a TCI, que não é uma empresa de ônibus, mas sim, uma empresa de transporte coletivo. Se, no futuro, as pessoas passarem a ser “teletransportadas”, a empresa terá de se converter em um agente teletransportador. Outro exemplo é o Jornal de Itatiba Diário, cujo produto final, hoje, é uma série de serviços ao leitor no formato de jornal impresso em papel: informação, conhecimento, cultura entretenimento e credibilidade. O Jornal tem de oferecer todos esses serviços, não importa a forma e o veículo de comunicação. Sua preocupação será a maneira como esse conjunto de comunicação vai chegar ao consumidor final.

Exemplo marcante em nossa cidade foi a indústria do móvel colonial. Houve um equívoco até no famoso posicionamento da cidade como “A Capital Brasileira do Móvel Colonial”. Todos acreditaram que o foco desse setor estava nos famosos móveis coloniais de Itatiba. Tivemos um grande momento econômico com esses produtos, que geraram muito emprego e renda para a cidade. Os empresários e o poder público investiram em muitas feiras e eventos. Mas, nas últimas décadas, o consumidor mudou seus hábitos, atitudes, necessidades e desejos. Quando o setor floresceu, não se investiu - ou se investiu muito pouco - em pesquisa e planejamento de marketing. Se os empresários tivessem apostado nessa via, poderiam ter descoberto há mais tempo qual o negócio da indústria moveleira de Itatiba e posicionado a cidade em um segmento que pudesse gerar renda e emprego por muito mais tempo. Segundo a tese do professor Levitt, a nossa indústria moveleira vendia - ou vende - decoração, design, mobiliário de luxo, status, reconhecimento etc. Itatiba poderia ter se tornado uma referencia mundial em design de móveis.

Mas, a indústria do móvel está ativa, continua a gerar emprego e renda. Temos um novo mix de produtos, boas lojas, boas indústrias e um shopping de móveis que investe constantemente em comunicação. Temos ainda o Senai de Itatiba, uma das nossas maiores conquistas nos últimos trinta anos, que está sempre empenhado em qualificar o trabalhador. Pelos preços praticados, temos um público-alvo bem definido. A logística (entrega, montagem, localização das lojas) já tem uma estrutura montada. O que está faltando é a promoção. Neste ponto, o poder público poderia ser o principal agente. O desafio será fazer de Itatiba um grande centro de compras e de lazer para um público das classes A, B e C, com um posicionamento claro e bem definido como a “Capital do Design Moveleiro”.

Só que, com profissionalismo.

 Fabio Chrispim Marin

Comerciante, publicitário especialista em Marketing Político-ECA USP.

Artigo publicado no Jornal de Itatiba em 14/06/2009