A Zona Azul surgiu como a solução para os problemas de estacionamento na área central de Itatiba. Em tese, trouxe facilidade para estacionarmos em frente das lojas da nossa preferência e sem dificuldades para fazer a baliza. Mas o tempo mostrou rapidamente as consequências negativas da Zona Azul para o comércio no centro de Itatiba e no Mercadão.
Não está totalmente claro o benefício oferecido pela Zona
Azul e qual a sua relação com a comunidade local. A rigor, cidadão que, para estacionar
o seu carro, deposita moedas no parquímetro se torna um cliente do
estacionamento rotativo. Ou seja, ele compra o direito de estacionar seu carro
em uma suposta vaga e, como bonificação, não leva uma multa. Portanto, em minha
opinião, há uma relação comercial entre a empresa concessionária e o condutor do
veículo.
No dia-a-dia, a dificuldade enfrentada pelos usuários da
Zona Azul é a falta generalizada de moedas. Os parquímetros consomem a maioria
delas, e a reposição não é feita na mesma proporção e rapidez. As agentes
fiscalizadoras, que representam a concessionária, deveriam ter moedas para
trocar para os clientes. Os comerciantes também podem e devem fazer a troca, como
gentileza aos consumidores do comércio local.
O segundo problema está no fato de a Zona Azul ser uma
‘draga” para a economia local. Praticamente todo dinheiro arrecadado pela
concessionária vai embora, não fica em Itatiba. A Estapar Estacionamentos, que
instalou totens com um discurso de ter uma tecnologia de primeiro mundo, paga os seus
custos operacionais, mas todo o seu lucro é enviado para a sua matriz. Esse é
um bom assunto para um economista detalhar em um artigo para o JI.
O terceiro e o maior
problema causado pela Zona Azul é o antimarketing para o comércio itatibense. As
multas de R$ 127,00 e os cinco pontos na CNH - penalidades para quem se arrisca
a não pagar o Zona Azul ou extrapola o tempo de estacionamento - têm causado
medo e afugentando o consumidor. Quem precisa fazer compras e já levou alguma
multa ou não tem moedas no bolso sempre analisa as opções e, inevitavelmente, traça
uma rota de fuga do centro. O consumidor sempre busca a sua conveniência:
escolhe o comércio com estacionamento fácil, regiões sem o estacionamento rotativo
e, pior ainda, ruma para outras cidades.
Com a fuga dos consumidores, as lojas das ruas centrais
perderam o efeito vitrine e a compra por impulso. Itatiba é uma cidade
interiorana e ainda preserva como diferencial o relacionamento direto e cordial
entre o cliente e o lojista e atendentes. Essa característica proporciona ao
consumidor um pouco de entretenimento, de
lazer e até passatempo.
Com a Zona Azul, quando precisa vir ao centro para ir ao banco,
fazer uma visita, resolver alguma questão ou comprar em uma loja de sua
preferência, o consumidor faz o que tem que fazer apressadamente para não ser
multado e vai logo embora. Não toma um cafezinho, um lanche, um sorvete, não dá
“dois dedos de prosa” com os conhecidos, não faz um passeio e não vê as vitrines.
Existem propostas para flexibilizar a fiscalização e para
conceder uma tolerância de até 15 minutos para quem usar o Zona Azul. Mas tampouco
resolverá o problema. Talvez seja ainda pior. Ao sair para as compras, todo
mundo terá a sensação de estar perdendo o ônibus. O consumidor continuará a
seguir sua lista de tarefas e compras na correria. O comércio, porém, precisa de
consumidores com mais tempo e menos estresse.
Hoje
em dia não basta satisfazer os clientes. É preciso encantá-los. E para encantá-los,
o comerciante tem de estar um passo a frente das expectativas e desejos de sua
freguesia. Quando decide o local de sua compra, o consumidor cria uma
expectativa em relação ao produto, ao atendimento, aos serviços, aos preços, às
condições de pagamento e a todas as facilidades que pretende encontrar.
Qualquer ruído nesse processo, a experiência se torna desagradável. O ruído que
está tornando negativa a experiência do consumidor e que o afugenta da área
central de Itatiba e do Mercadão é a multa da Zona Azul.
Atualmente, o estacionamento rotativo impõe medo ao
consumidor: medo da multa, medo de perder pontos e medo ter a sua carteira de habilitação
suspensa. Essa sensação gera o antimarketing para o comercio do centro. E está fazendo com que o centro comercial de
Itatiba e o Mercadão percam seus encantos e que, nesses locais, os consumidores
tenham reduzido seu prazer de fazer as suas compras e passeios.
Artigo publicado na Coluna Opiniões. Jornal de Itatiba - Diário. 27/11/2016